Folha de S. Paulo


Na contramão da crise, Rio abre filial do célebre clube de jazz Blue Note

Ricardo Borges/Folhapress
Steven Bensusan, presidente do clube de jazz Blue Note, que abre filial na cidade do Rio de Janeiro e é a primeira na america do Sul
Steven Bensusan, presidente do clube de jazz Blue Note, que abre primeira filial na América do Sul

Quando menos esperava, e quando mais necessitava, o Rio ganhou uma notícia na contramão da crise: no fim deste mês a cidade recebe uma filial do Blue Note, célebre clube nova-iorquino de jazz.

A casa de 350 lugares (todos sentados) ficará à beira da lagoa Rodrigo de Freitas, ponto nobre da zona sul carioca, no mesmo espaço que abrigou outro clube intimista, a Miranda, de vida curta.

"Fiquei emocionada de saber da abertura. Só vemos tudo fechando, as pessoas não aguentando ficar com as casas abertas. Estamos a pão e água, com uma música tão rica", diz a cantora Leny Andrade, uma das atrações já agendadas.

O espaço carioca será a sétima filial do clube de jazz fundado em 1981, no Greenwich Village, em Nova York. Célebre por abrigar nomes como Dizzy Gillespie, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e Ray Charles, o Blue Note tem hoje três casas nos EUA, duas no Japão, uma na China e uma na Itália.

"Sempre achamos que o Brasil seria uma evolução natural para a expansão, dada sua forte história musical associada ao jazz", diz Steven Bensusan, filho do fundador e atual presidente da empresa, que administra casas de outras marcas, além de uma gravadora.

"Certamente não contávamos com essa crise econômica, mas estamos apostando no futuro. Não há ninguém trazendo os maiores nomes do jazz para cá, como nós faremos. É um bom momento para isso."

Bensusan diz que a abertura de uma filial brasileira vem sendo tentada há uma década. Cogitou-se fazê-la em São Paulo, mas, curiosamente, o projeto não vingou no período de crescimento econômico do país.

Os americanos licenciaram sua marca para a L21 Participações, do empresário Luiz Calainho, que pagou R$ 4,2 milhões pelo direito de uso e pelas obras na sede carioca.

A matriz será responsável pelo agendamento dos shows –aos brasileiros caberá a curadoria, a partir do cardápio de opções oferecidas. A rede de filiais permite fechar contratos para apresentações múltiplas, mais viáveis economicamente.

"Um músico que talvez não pudesse vir ao Brasil para apenas uma apresentação pode fazê-la conosco, porque oferecemos um pacote de shows pelo mundo", diz Bensusan. "Você não veria um artista como Chick Corea tocando em um lugar intimista no Brasil se não fosse no Blue Note."

Em termos musicais, a casa dará espaço para os variados tipos de jazz e outros estilos que têm relação com ele –blues, R&B, bossa nova etc. "Vai ser uma fusão boa. O jazz abre a porta, e a bossa nova passa", diz Leny Andrade, que estreou nos EUA cantando no Blue Note de Nova York, em 1988. Não ficou tão bem impressionada com o local, no entanto: "É desconfortável, enche muito, fica todo mundo muito grudado".

Presença constante nas filiais do Japão e da Itália, o cantor e compositor Marcos Valle, outra das atrações do novo espaço, diz que ele veio "na hora ideal, porque já não havia muitos lugares para apresentar um certo tipo de música. Para o Rio, neste momento, é um bálsamo".

Divulgação
Simulação em 3D da filial da Casa Blue Note no Rio
Simulação em 3D da filial da Casa Blue Note no Rio

AMERICAN WAY

A casa carioca vai importar não apenas a programação, mas também o estilo de operação da matriz: terá shows noturnos de quarta a sábado (às terças, funcionará apenas como restaurante) e um brunch com música aos domingos, das 11h às 18h.

De quinta a sábado, os artistas farão duas apresentações por noite. Esse formato, em que a plateia do primeiro show precisa deixar o recinto assim que ele termina, não é usual no Brasil.

"Isso vai ser uma dificuldade, criar essa cultura de um show seguido de outro. O carioca não tem esse hábito da troca de público", diz Daniel Stain, sócio de Calainho na empreitada.

"É uma novidade, o público vai estranhar um pouquinho. Nós, que tocamos fora do Brasil, estamos absolutamente acostumados, funciona bem", diz Marcos Valle.

Esse modelo, segundo os empresários, é a única maneira de viabilizar shows de artistas consagrados numa casa para poucas pessoas.

"Estamos espremendo ao máximo nossa margem [de lucro] para conseguir ter um preço razoável e manter a casa operando", diz Stain.

O custo dos ingressos varia conforme o show e o local –os mais baratos saem a R$ 40 (para uma cadeira no bar) e os mais caros, a R$ 1.900 (para a área VIP do show de Sergio Mendes).

BLUE NOTE
QUANDO: a partir de 31/08
ONDE: av. Borges De Medeiros, 1.424, Lagoa, Rio De Janeiro
QUANTO: de r$ 40 a r$ 1900 em bluenoterio.com.br


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