Folha de S. Paulo


Em quinto álbum, Arcade Fire critica imediatismo e consumo desenfreado

"A verdade é que o #DecadenteArcadeFire não está mais nos dando aquela coisa de que nós gostávamos naquela época em que éramos todos um pouco mais jovens e mais esperançosos. Triste!"

O trecho poderia ter sido tirado de uma das "críticas prematuras" do site Stereogum, que em junho publicou o artigo "Lembram-se de quando Arcade Fire era bom?".

No entanto, trata-se de uma paródia escrita e publicada pelo próprio sexteto canadense no portal fictício Stereoyum, "membro da Billlboard Music, uma divisão da Billlboard-Hollywood Reported Media Group" [referências claras às publicações "Billboard" e "Hollywood Reporter"].

Guy Aroch/Divulgação
A banda canadense Arcade Fire, que lança o álbum 'Everything Now
A banda canadense Arcade Fire, que lança o álbum 'Everything Now'

A resenha é apenas um exemplo dos produtos –como uma linha de camisetas que tira sarro de uma fracassada tentativa empreendedora das irmãs Kardashians– e notícias falsas que a banda criou para sintetizar a mensagem de seu quinto álbum de estúdio, "Everything Now", lançado nesta sexta-feira (28).

As 13 faixas –ou 11, se desconsiderarmos as vinhetas iniciais e finais– compõem uma crítica à cultura imediatista de consumo exacerbado.

"As pessoas estão impacientes", diz o baterista Jeremy Gara à Folha. "Elas só querem algo rápido e simples e seguir para a próxima coisa do momento. Nós só estamos fazendo perguntas e comentando o que vemos", resume.

DUPLA FACE

"Não acham irônico que vocês tenham o que parece ser uma mensagem anticorporativista em sua campanha de divulgação para o álbum e ainda assim a exibição [do show de lançamento, na quinta (27)] só esteja disponível para usuários da Apple Music?", questiona uma pessoa no perfil da banda no Facebook.

"Quando éramos jovens, criticavam-se as bandas por se venderem à publicidade, como fazer um comercial da Apple, mas essas críticas estão há tanto tempo mortas; se você quer que a sua banda favorita sobreviva, ela tem que arrumar dinheiro de alguma maneira", diz Gara.

Para ele, o público quer que continuem produzindo, mas não quer comprar os álbuns. "'Vou ouvir pelo Spotify umas seis vezes, o que vai dar a eles uns seis centavos'", zomba.

Gara esclarece que não é contra o streaming, mas gostaria que o sistema fosse "mais justo". Não é possível, afirma ele, ser um músico profissional nesse cenário.

"Você precisa atingir esses números doidos, que 99% dos músicos não vão atingir, para nem sequer ter algum dinheiro de volta de forma real. Eu não estou falando de hobby, alguns trocados, eu estou falando como um músico trabalhador que precisa pagar seu aluguel e alimentar seus filhos. Eu realmente não acredito que isso seja sustentável."

Pensando nisso ou não, o Arcade Fire garantiu neste novo álbum faixas com potencial para puxar coros em seus shows, de onde vem a maior parte da renda da banda há 13 anos, desde que ela lançou "Funeral" (2004).

Repleto de influências de artistas como Abba e David Bowie, o álbum passeia por hinos dançantes com letras sombrias, caso mais evidente em "Creature Comfort", gerando um dissonância entre o que se toca e o que se fala.

"Não foi necessariamente intencional, mas estávamos cientes disso", diz Gara. "Adoro quando você ouve o começo de uma canção que parece ir para uma direção e é chocado de alguma maneira, isso deixa as coisas interessantes."

A banda virá à América do Sul em dezembro, mas ainda não anunciou shows no Brasil. "Vamos com certeza tocar aí em breve", diz Gara. "Ninguém precisa se preocupar."

Ouça no spotify


Endereço da página:

Links no texto: