Folha de S. Paulo


Na Flip, jornalista e tradutor da Bíblia discutem relação entre e ciência e fé

Marcus Leoni/Folhapress
O linguista Frederico Lourenço (esq.), a mediadora Francesa Angiolillo e o jornalista Reinaldo José LopesPARATY, RJ, BRASIL, 28.07.17 17H30 Bate papo com Frederico Lourenco e Reinaldo Jose Lopes, mediado por Francesca Angiolillo, na Casa Folha. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, ILUSTRADA)
O linguista Frederico Lourenço (esq.), a mediadora Francesa Angiolillo e o jornalista Reinaldo José Lopes

As relações de aproximação e embate entre ciência e fé foram o norte do debate que reuniu o jornalista Reinaldo José Lopes e Frederico Lourenço, linguista que divulga na Flip o primeiro volume de sua tradução da Bíblia, com os quatro Evangelhos.

O encontro dos dois aconteceu na Casa Folha, na tarde desta sexta-feira (28), com mediação de Francesca Angiolillo, editora-adjunta de Cultura da Folha.

Lourenço começou explicando o tratamento sem viés religioso de sua tradução —mais atenta ao contexto histórico da bíblia grega.

Mesa dom Reinaldo José Lopes

"Como em Portugal existem excelentes bíblias católicas, sentia falta de um Novo Testamento com esse tipo de informação. A linguística, a ciência e a filologia podem ajudar a ter uma visão mais abrangente desses textos", disse o tradutor.

O jornalista, que é católico, por sua vez, analisou o surgimento do monoteísmo com um viés científico.

"A ideia é que esse deus único emergiu quando saímos do nível de bando ou tribo e passamos a viver com dezenas de milhares [de outros]. Como não havia mais interação face a face e todo mundo é seu parente, é preciso criar mecanismos de monitoramento [social] que permita um controle", disse ele.

Quando questionado, por uma bióloga na plateia, se não via contradição entre suas crenças religiosas e a ciência, Lopes afirmou que não.

O jornalista, que foi editor de ciência e saúde da Folha por três anos, lembrou que os relatos bíblicos sobre a origem do universo não são factuais.

Para ele, Deus não cria o universo do zero, mas, sim, suas "funções". É como se houvesse uma matéria pré-existente a partir da qual o Todo-Poderoso estabelece as condições para que o mundo surja em sua "própria potencialidade".

"Se Deus intervém ou não universo depois disso, aí é uma questão de fé", afirmou.

Quando questionados para que dissessem seus trechos prediletos no texto bíblico, Lourenço destacou a história de Jonas.

"O livro de Jonas tem apenas três páginas e é um espelho de tudo o que a vida humana tem de frustrante. Ele é um ser humano condenado a fazer o seu melhor, mesmo sabendo que, ao fazê-lo, o resultado nunca vai ser o melhor", afirmou o tradutor.

Já Lopes escolheu uma frase de Isaías, em que o profeta diz: "Tu crês em um só Deus? Bem fazes! Os demônio também acreditam e tremem de medo".

"O cara que mais acredita em Deus é o capeta, que estava lá do lado Dele na criação! Ele sabe exatamente quem é Deus e o pé na bunda que vai tomar. Você crer em Deus não é o mais importante, mas fazer o que é certo com seus irmãos", disse o jornalista, arrancando aplausos da plateia lotada.


Endereço da página:

Links no texto: