Folha de S. Paulo


DEPOIMENTO

Não me lembro de nada, mas como esquecer os Trapalhões?

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Mussum, Zacarias, Dedé Santana e Aragão em cena de 'Os Trapalhões' no início dos anos 80
Mussum, Zacarias, Dedé Santana e Aragão em cena de 'Os Trapalhões' no início dos anos 80

Foi nas férias de julho de 1975 que minha mãe me levou de tarde, no meio da semana, a uma galeria na rua Domingo de Moraes, ao lado do supermercado Barateiro (que, eu compreendia, tinha esse nome por abrigar muitas baratas). Havia um cinema lá no fundo da galeria e o cartaz era de "O Trapalhão na Ilha do Tesouro".

Creio que foi meu primeiro filme no cinema, eu ainda não tinha cinco anos, e foi também meu segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oitavo filme, porque, quando as aulas voltaram, eu convenci a diarista de casa a me levar de novo quase todos os dias por duas semanas consecutivas.

Ainda não havia para mim Mussum e Zacarias; apenas Didi e Dedé faziam parte da gangue nos cinemas. Mussum estrearia no filme de 1976, "O Trapalhão no Planalto dos Macacos", com toda a sorte de piadas negro-macaco que você é incapaz de imaginar 40 anos depois.

Zacarias apareceria em "Os Trapalhões na Guerra dos Planetas", de 1978, primeira produção que usa o termo "trapalhões" no plural, pois até então havia apenas "o trapalhão" Didi.

"Guerra dos Planetas", paródia de "Guerra nas Estrelas", lançado aqui no mesmo ano, nem filme é: foi gravado em videotape, produzido em parceria e com as câmeras do programa da TV Globo, para onde o grupo havia se mudado em 1977.

Já haviam passado pelas TVs Excelsior, Record e Tupi, com diferentes formações, mas foi na Globo, pelo menos para mim, que Os Trapalhões escreveram sua história. Iam ao ar às 19h dos domingos, antes do "Fantástico" (isso é importante).

Minha situação era gravíssima: íamos quase todo fim de semana para São Simão, a 274 km de São Paulo (pelo menos quatro horas na Belina de meu pai), e a briga dominical era que os adultos queriam voltar justamente na hora d'"Os Trapalhões".

Eu e meus dois irmãos chorávamos, esperneávamos, ganhávamos metade das vezes. E assistíamos ao programa com meus pais e avós também na maior TV do mundo, que tinha até portas para fechar. Todo mundo amava "Os Trapalhões".

Não consigo me lembrar de nenhuma das centenas de esquetes que assisti em São Simão ou em São Paulo, talvez um ou outro lampejo da série "Trapa Suate".

Mas ainda hoje, quando ouço a música do "Fantástico" –aquela música que para muita gente traz uma angústia por anunciar a ameaça da semana, da escola, do trabalho, minha sensação é de vazio. Porque acabou o programa dos trapa.


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