Duas trajetórias na MPB somam 90 anos nesta terça (4) em São Paulo. Os cantores e compositores Carlinhos Vergueiro e Walter Franco comemoram em palcos diferentes seus 45 anos de carreira.
Vergueiro, 65, faz no Teatro Itália, com voz e violão, o show "O Cúmulo do Samba", espetáculo que referencia compositores paulistas do gênero. E canta também muitas canções autorais, já que ele se insere nessa categoria;
Franco, 72, se apresenta no Bourbon Street com banda e a participação do filho, Diogo Franco, que acompanha as músicas do pai tocando cítara e mostra algumas criações de sua carreira solo.
O primeiro cruzamento dos dois veteranos foi no Festival Abertura, em 1975. Vergueiro ganhou com a composições "Como um Ladrão". Franco ficou em terceiro lugar, com "Muito Tudo". Em segundo, outro novato: Djavan.
"Tinha muita gente boa", conta Vergueiro à Folha. "Eram três gerações. Tinha Nelson Cavaquinho, Paulo Vanzolini, Hermeto Pascoal e Geraldo Filme. Aí a turma de Walter Franco, Jards Macalé e Jorge Mautner. E tinha, começando, Leci Brandão, Djavan, eu, Alceu Valença, que estava entre uma e outra, e também o Luiz Melodia."
Vergueiro dá entrevista em seu apartamento, em Pinheiros. Paulistano da Bela Vista, retornou à cidade há menos de 15 dias, depois de mais de 30 anos no Rio. "Voltei porque aqui acho que vou trabalhar mais, as pessoas vão lembrar que sou paulista."
Ele fala que muitos músicos estão trocando o Rio por São Paulo. E já vê como acertada a decisão. Reencontrou antigos parceiros e já costura novas colaborações, como com a cantora Klébi Nóri.
Música e futebol se entrelaçam na vida de Vergueiro. Ele recebe a reportagem vestindo a camisa do Madrugada Futebol e Samba, time que já o "contratou" em São Paulo. "É uma pelada às terças, das dez à meia-noite. Sou meio Zé Roberto", diz, rindo, comparando-se ao jogador que atua no Palmeiras e completa 43 anos nesta semana.
ÍDOLOS E PARCEIROS
Vergueiro conheceu Toquinho no futebol, e este o apresentou a Vinicius de Moraes, um dos muitos ídolos com os quais teve oportunidade de trabalhar. A lista de monstros sagrados que se transformaram em parceiros é enorme. Fala com carinho de Adoniran Barbosa, Cartola, Vanzolini e Nelson Cavaquinho, de quem produziu o último disco.
"Não sou um pesquisador, eu vivi com os caras. Acho a música deles poderosa, eterna, e é o que gosto de cantar. Cantei Belchior, que numa época morou comigo. Cantava 'A Palo Seco', 'Paralelas', antes que estourassem."
Seu próximo disco deve ser de canções inéditas. E fará parte de um projeto, "Cigano", que pretende englobar um minidoc sobre sua carreira e seu primeiro DVD. Em busca de patrocínio, tudo é preparado para unir músicas e histórias saborosas.
Vergueiro já lançou quatro discos nesta década. Franco quer romper um jejum que vem desde "Tutano" (2001). Há dois anos, foi relançado em vinil "Revolver" (1975), seu segundo LP e presença constante em lista de melhore da música brasileira.
Esse álbum foi elogiado por John Lennon, ídolo maior de Franco ao lado de João Gilberto e Gilberto Gil.
Franco criou seu som entre rock, MPB, minimalismo e poesia concreta. Era tão vanguarda nos anos 1970 que divida plateias nos festivais entre aplausos e vaias. Hoje, é seguido por um público fiel e uma garotada que já faz coro para hinos como "Canalha" e "Coração Tranquilo".
No encontro dos dois para a fotografia acima, conversaram sobre os amigos comuns de música e boêmia. Entre vanguarda e raiz, cada um tem seu capítulo na MPB.
CARLINHOS VERGUEIRO
QUANDO terça (4), às 21 h
ONDE Teatro Itália, av. Ipiranga, 344, tel. (11) 3255-1979
QUANTO R$ 40; venda de ingressos pelo tel. (11) 2122-4070
WALTER FRANCO
QUANDO terça (4), às 21h30
ONDE Bourbon Street, r. dos Chanés, 127, tel. (11) 5095-6100
QUANTO R$ 60 (couvert artístico); ingressos pelo tel. (11) 4003-1212