Folha de S. Paulo


Sertanejo Felipe Araújo faz até 12 trocas por show, o dobro de Beyoncé

Jhonnathas Franco Fotografia/Divulgação
O cantor Felipe Araújo em show em Piratininga, interior paulista, em maio
O cantor Felipe Araújo em show em Piratininga, interior paulista, em maio

Influências da cultura pop internacional, especialmente Justin Timberlake e as irmãs Kardashian, têm produzido uma espécie de uniformização da vestimenta dos artistas.

Exemplo disso é o irmão do sertanejo Cristiano Araújo (1986-2015), Felipe Araújo, 21, que mais parece um ídolo teen do que um sertanejo, com camisetas longas, estampas e bermudas combinadas a tênis.

Andressa Pacheco, 27, foi a stylist contratada por ele para escolher seus dez looks semanais, fora as trocas durante os shows, quando o jovem usa 12 conjuntos diferentes. A média de divas pop como Madonna e Beyoncé é de seis combinações por espetáculo.

Ela conta que o perfil esportivo, mais relaxado "e cheio de elastano", faz a cabeça dos mais jovens. "Até os anos 1990, todo mundo se vestia igual em determinado segmento da música. Hoje os cantores querem colocar identidade na roupa", diz.

O começo dessa busca "é uma catástrofe", segundo a produtora de moda Carola Chede, 39, que já vestiu Anitta e a dupla Fernando & Sorocaba, e agora monta o estilo da funkeira Valesca (a Popozuda). "O primeiro passo é fazer com que eles entendam que não precisam mostrar demais o corpo para serem notados. À medida que vão crescendo na carreira, passam a entender melhor a relação entre exposição do próprio corpo e estilo", afirma Chede.

Ela vê uma aproximação do teor "sem-vergonha" das garotas do funk com o comportado sertanejo. "Só no funk podíamos ousar, colocar 'hotpants' nas cantoras. Hoje tem até transparência nas roupas das duplas femininas", diz. "O que todo mundo quer é parecer diva."

Assim, a difundida pecha de cafona do visual "mainstream" da música brasileira perdeu validade. Stylists e consultores de imagem afirmam que, desde o início da década, há um movimento de modernização do visual desses artistas pop, do funk ao sertanejo.

"O conceito de cafonice está ligado a uma desinformação dos artistas e a um apego inicial a estéticas enraizadas. No caso dos sertanejos, a moda da fivela e da camisa xadrez foi saindo de cena com a entrada dos jovens na audiência. Elas foram diluídas e sobrepostas a outras peças. As referências do público mudaram o estilo dos próprios ídolos", diz a stylist Camila Motoryn, que já vestiu Fiuk e Gusttavo Lima.


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