Folha de S. Paulo


Há 30 anos na 'Praça', Carlos Alberto diz que não há o que renovar

Leonardo Nones/SBT/Leonardo Nones/SBT
Carlos Alberto de Nóbrega na homenagem aos 30 anos de 'A Praça É Nossa
Carlos Alberto de Nóbrega na homenagem aos 30 anos de 'A Praça É Nossa'

Carlos Alberto de Nóbrega, 80, está sentado no mesmo banco da mesma praça, mas não porque vai gravar mais um episódio do humorístico que comanda há três décadas ininterruptas no SBT.

Está recostado porque torceu o joelho e lesionou o ligamento. E é lá no cenário de "A Praça É Nossa" que o roteirista, humorista e apresentador recebeu há alguns dias uma homenagem da emissora pelos 30 anos no ar.

Para ele, o segredo para o humorístico se manter é um: simplicidade. "E a liberdade total que tenho no SBT", diz.

Espírita, Nóbrega, que aos 40 anos perdeu o pai, Manuel de Nóbrega, criador do formato "A Praça da Alegria", também acredita numa ajuda de outro plano. "Um médium me disse que meu pai veio à Terra me preparar. Acho que uma luz muito forte está atrás [desse sucesso]."

O programa continua bem de audiência. Em junho, na média nacional do Ibope, o humorístico exibido nas noites de quinta ficou em 1º lugar no horário, com 9,6 pontos de média contra 9,1 da Globo (cada ponto equivale a 688,2 mil espectadores).

Quando bate Fábio Porchat, da Record, Nóbrega, afirma ter "orgasmos múltiplos".



30 anos no ar
O segredo é simplicidade, é o arroz com feijão bem feito. Faço questão que o público pense que tudo foi inventado na hora. E tem que fazer humor com identificação na hora. É perigoso fazer como o Multishow, que grava direto 30 episódios. Quando exibe um ano depois, a piada [por exemplo] da carne com papelão não vai ser engraçada.

Renovação
Não quero renovar nada. Se está dando certo, para que mudar? Deixa a juventude mudar o país.

Humor dito inteligente
O que é humor inteligente? O sem graça? É o que faz Globo, gasta tudo com computação sei lá mais o quê e não termina a piada? Tem melhor humorista que Chaplin? E que fazia a coisa mais simples? O humor que chama inteligente é só da cintura pra baixo, sexo, pornografia. O "Tá No Ar", adoro o Marcelo Adnet, o [Marcius] Melhem, mas o público não gosta. Humor é para você rir.

Novos humoristas e TV paga
Estão fazendo errado. Eles, sim, têm que renovar, não precisam de audiência. O que há de novo? Só tem pornografia, palavrão, homossexualismo. Botam palco pra girar, circo. Fazíamos isso na TV Paulista em 1957. Paulo Gustavo é sensacional. Mas [na aberta] ninguém vai contratar porque não vai vender. Dercy Gonçalves é uma só.

Aposentadoria
Não vou parar. Não quero ficar velho, tenho medo da velhice. Logo vou fazer um programa no YouTube, receber amigos para um bate-papo.

Menos política
"A Praça" é assistida por socialista, ateu, católico, crente. Tenho que agradar a todo mundo. Não posso ficar só falando de uma coisa. Às vezes botam piada sobre os 10% [de dízimo]. Eu tenho caso da minha ex-mulher [Andréa de Nóbrega] que foi pra lá [Igreja Universal] e fizeram a cabeça dela, a lavagem cerebral. O que a gente tem a ver com isso? Dá 10% porque você quer. Se sei que Silvio tem relacionamento bom com o Edir Macedo [bispo dono da Record], pra que vou gozar os caras que frequentam a igreja dele? Só ponho na "Praça" aquilo que interessa, que leva a alguma coisa, a fazer rir.

Humor ofensivo
Não gosto. Uma das coisas que prejudicou muito o "Pânico" foi esse negócio, pegar no pé do Jô, do Clodovil. Isso é engraçado uma vez. Quando você goza alguém, faz piada, os dois têm que dar risada. Se só um ri é bullying.

Editoria de Arte/Folhapress

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