Folha de S. Paulo


Crítica

Novo 'Jornal Nacional' abusa da tecnologia, mas relega notícia

JORNAL NACIONAL (bom)

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Nesta segunda (19), o "Jornal Nacional" finalmente estreou a sua "nova casa", que tratou de descrever de maneira detalhada no final do próprio programa, por exemplo, quanto ao efeito de "três dimensões" com a sobreposição de dois telões:

"Primeiro um vidro de 15 metros em curva, que varia do fosco para o transparente. E, ao fundo, um telão gigante, de três metros de altura por 16 de largura."

Mas o noticiário do dia não ajudou, e não havia nada preparado para preencher o vazio.

O novo "JN", apesar do destaque dado no telejornal ao discurso do diretor-geral do canal, Carlos Henrique Schroder, em defesa do jornalismo, foi jornalisticamente frio, com a escalada carregada pelo noticiário do fim de semana.

A estreia da "nova casa" resultou anticlimática, para um público que aguardou por meses alguma informação sobre o que, afinal, mudaria.

Até os "teasers" do dia se mostraram frustrantes. Nas horas anteriores à estreia, o apresentador William Bonner surgiu em mídia social num vídeo de celular, mas dizendo que estava proibido de mostrar o cenário.

Os perfis da Globo, que tentaram forçar a hashtag #JNDeCasaNova, diziam: "Ansiosos? A intenção é essa...". Se era a intenção, o conteúdo poderia ter sido melhor.

Visualmente, as novas soluções de tecnologia impressionam. A bancada de apresentadores pouco mudou, só encolheu na tela e escureceu, abrindo espaço para intervenções de imagem, tanto gravações como ilustrações.

Mas o abuso visual não causou estranheza, apesar de muitas vezes, como em fios aparentes de laser ou movimentação das câmeras pelas formas circulares do cenário, remeter a franquias hollywoodianas de ficção científica.

O problema era o conteúdo. A primeira impressão de notícia só apareceu com a entrada em cena de Maria Júlia Coutinho e a informação de que vem muito frio pela frente.

Entraram então os mapas e outros dados gráficos que haviam marcado o início da reformulação dos telejornais da Globo, em São Paulo. E se evidenciou que o "JN" pisou no freio, em relação ao que vinha sendo implantado.

Enquanto os noticiários locais começam a perder o vínculo com a TV em favor da aproximação com a internet ("SPTV" se tornou "SP1"), o principal telejornal se manteve olímpico.

Nada de mensagens dos espectadores via internet, quase nada na "barra de informações". A referência à Globo Play, a Netflix da Globo, seu serviço pago, se limitou a um lembrança rápida no final.

No "JN" de sábado, Bonner e Renata Vasconcelos haviam prometido, "num só lugar, jornalistas de TV e da internet", mas com "a tecnologia a serviço da notícia, sempre". Faltou a notícia.

AUDIÊNCIA

Com 32,1 pontos de audiência, o ibope do programa cresceu se comparada à última segunda-feira (12), que marcou 30,2 pontos. Entretanto, em relação à média das quatro segunda-feiras anteriores, a estreia do novo "Jornal Nacional" ficou 0,7 pontos atrás.

A audiência do Ibope é medida na Grande São Paulo e cada ponto equivale a 199,3 mil espectadores.


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