Folha de S. Paulo


Festival holandês Milkshake esmaga o preconceito em SP

"Viadagem tem limite, po*." O passageiro de um SUV branco preso no trânsito da av. Francisco Matarazzo, em São Paulo, vomitava ódio enquanto via um grupo de amigos andando pela calçada trajando shorts curtos, regatas e maquiagem glamorosa no rosto.

Por volta da 1h30 da madrugada de sábado (17), a poucos metros dali, dentro de um Milkshake Festival que lotou parte do Espaço das Américas, do Audio Club e da Expo Barra Funda, todo tipo de amor era celebrado.

A primeira edição brasileira do evento holandês de música, voltado para o público LGBTQ e sucesso nas arenas de sua cidade natal, Amsterdã, provou para um público estimado em 10 mil pessoas que doses cavalares de brilho, música de qualidade e algum romance podem, ao menos durante 14 horas de programação, esmagar o preconceito de todos os dias.

Nas paredes dos 12 mil m² onde foram armados quatro palcos, liam-se cartazes com o escrito "para garotos que amam garotas que amam garotas que amam garotos que amam garotos", referência à música "Girls and Boys", do grupo inglês Blur.

Entre um beijo e outro, 44 atrações, sendo sete delas internacionais, colocavam em prática o lema libertário.

Um dos pontos altos da festa foi a apresentação do grupo Hercules and Love Affair, projeto do DJ americano Andy Butler. O quarteto subiu ao palco principal para entoar hits como "Blind", "You Belong" e a nova "Controller", cuja fórmula de nu disco, house e dance dos anos 1980 sagrou neste ano o grupo como uma potência do circuito eletrônico.

Mesmo de olho na cena internacional, o festival estendeu o enorme tapete vermelho para bandas e cantores brasileiros que levantam o discurso da igualdade.

No clima do festival, a Banda Uó fez um "Shake de Amor" e ainda jogou "Búzios do Coração" para uma plateia "Cremosa", que dançou frenética os sucessos do trio.

Tão frenética quanto um grupo formado por mais de 25 "drag queens" que imprimia glamour ao espaço "Super Toys", próximo ao palco principal. Milhares de pessoas preferiram o bate cabelo da montação a bater o pé ouvindo música.

Mas só até o paraense Jaloo e a paranaense Karol Conká ajudarem a segurar a festa, coroada pela performance enérgica do cantor e drag queen maranhense Pabllo Vittar.

Na mala do cantor veio sua chefe no programa "Amor & Sexo" (TV Globo), a atriz Fernanda Lima. Ela, por sua vez, levou o corpo de baile da atração para colorir ainda mais o festival, que, segundo a organização, causou incômodo.

Diretor de marketing da Plusnetwork, responsável pelo Milkshake e pelo festival de música eletrônica Tomorrowland Brasil, Maurício Soares disse à Folha que o evento só não aconteceu no autódromo de Interlagos, primeiro local anunciado pela produtora para receber a festa, por suposta pressão de moradores do entorno.

"Recebemos recados e mensagens de moradores que repudiavam a realização do festival no autódromo. Não achamos seguro, e algumas pessoas ficaram com medo de ir até lá 'montadas' [de salto, maquiagem e roupa feminina]", explica Soares.

Ele confirma a realização do evento no próximo ano. "É um longo caminho que devemos percorrer."

MILKSHAKE FESTIVAL

AVALIAção ótimo


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