Folha de S. Paulo


Maior museu dedicado à arte da xilogravura no país chega a 30 anos

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Poucos dos turistas que vão a Campos do Jordão (SP) sabem que a cidade abriga o maior acervo de gravuras em madeira do país, exposto na Casa da Xilogravura.

Fundado pelo professor de comunicação Antonio Costella, 74, o local faz 30 anos em julho, com mais de 500 obras em exposição, incluindo trabalhos de artistas como Maria Bonomi, Lasar Segall e Tarsila do Amaral.

Foi um longo caminho até chegar a essa configuração. A exposição que deu origem ao museu começou na sala da casa de férias de Costella.

O então professor da USP expôs ali xilogravuras que havia comprado em diversas viagens. "Pensei que deveria abrir para o grande público a oportunidade de ver as obras e decidi abrir a sala para visitações gratuitas", afirma.

O que era uma pequena mostra acabou por tomar conta da casa inteira e hoje recebe mil pessoas ao mês. Desde a aposentadoria, Costella e a mulher, Leda, dedicam-se ao museu.

Na chegada à Casa da Xilogravura, o visitante se depara com uma obra instalada em um arco sobre a porta de entrada.

Com 1,75 m de comprimento, o "Manequim Querubim", de Francisco Maringelli, é uma das mais recentes aquisições do acervo. "É uma fusão dos manequins que tenho no ateliê com anjos de cemitério, uma fusão do sagrado e do profano, uma provocação", conta o artista.

Em seu interior, o museu preza pelo didatismo: ali se explica como são feitas gravuras em madeira, quais seus principais usos e formatos e a história da técnica. Costella, diariamente no local, gosta de fazer o papel de guia dos visitantes pelas 30 salas.

Conta, em detalhes, como funciona o processo de entalhar uma peça de madeira, colocar tinta nela e prensá-la sobre o papel. Os visitantes têm a oportunidade de produzir gravuras com uma prensa.

ACERVO

Entre as obras expostas no museu, destacam-se os trabalhos de artistas que se dedicam ou se dedicaram primordialmente à gravura, como Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi. Há ainda obras de grandes artistas plásticos que também fizeram gravuras, caso de Tarsila do Amaral.

A preferida de Costella, contudo, é a gravura de um artista chinês pouco conhecido. Datada de 1981, ela mostra uma paisagem bucólica típica de montanhas do sul da China.

Produzida com cores frias, exibe a troca das folhas de árvores no outono. "Se eu acreditasse em outra vida e pudesse levar alguma coisa para lá, levaria a minha mulher e essa gravura", conta.

Outra preciosidade do acervo é o livro "Metrópolis", que reúne gravuras originais de 303 artistas. A coletânea foi organizada pelo xilógrafo alemão Andreas Kramer em 2016. "Só existem três unidades dessa coleção no mundo, e uma está aqui", explica.

O local é mantido de maneira independente. Além dos ingressos pagos pelos visitantes, uma editora criada por Costella, a Mantiqueira, ajuda a pagar as contas do museu.

No início dos anos 1990, ao fazer uma viagem à Europa acompanhado pelo seu cão Chiquinho, o professor teve a ideia de descrever as paisagens pelos olhos do animal e publicar o livro pela editora.

Nasceu a coleção 'Patas', destinada ao público infantojuvenil, cujo sucesso de vendas ajudou a expandir a infraestrutura e a coleção da Casa da Xilogravura.

"Sem os livros que ele protagonizou, esse museu não existiria hoje dessa forma", afirma o fundador.

Em seu testamento, Costella decidiu doar o museu à USP, com duas condições: manter o local funcionando e preservar o túmulo do cão Chiquinho no jardim.

CASA DA XILOGRAVURA
QUANDO de qui. a seg., das 9h às 12h e das 14h às 17h
ONDE av. Eduardo Moreira da Cruz, 295, Campos do Jordão, (12) 3662-1832
QUANTO R$ 8


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