Folha de S. Paulo


Músico Mykki Blanco se apresenta nesta sexta na festa Queeridx em SP

Divulgação
O músico Mykki Blanco, que se apresenta nesta sexta (9) em SP, na festa Queeridx, dentro do Red Bull Music Academy
O músico Mykki Blanco, se apresenta nesta sexta (9), na festa Queeridx, no Red Bull Music Academy

O norte-americano Michael David Quattlebaum Jr., 31, é uma ambiguidade ambulante –e se orgulha disso.

Até 2010 ele não sabia bem quem era ou como queria levar a vida. Naquela época, criou a personagem Mykki Blanco para uma performance e desde então incorporou a figura e abraçou a música.

A partir da adolescência, não se sentia confortável como homem, e quando transformou-se em Mykki Blanco, passou a se reconhecer como mulher. Poucos anos depois, voltou a falar de si próprio com pronomes masculinos.

Ele se apresenta nesta sexta (9) em São Paulo, na Festa Queeridx, noite dedicada à identidade de gênero dentro do festival Red Bull Music Academy e da qual também participam nomes como Liniker e MC Linn da Quebrada.

"Já me identifiquei como mulher, hoje sou homem", diz à Folha. "Prefiro me considerar como alguém com uma identidade fluida. A questão de gênero avançou nos últimos anos, mas ainda há violência e ignorância."

A indeterminação não é um problema para o artista. Ao contrário, é algo que alimenta as letras que compõe, em músicas que não se prendem a estilos e transitam com espontaneidade do rap ao pop, passando pela eletrônica.

Mykki Blanco passou a falar abertamente sobre a própria vida há pouco mais de dois anos. Foi em 2015 que ele decidiu tornar público o fato de que era portador do HIV, coisa que sabia desde 2011.

"Fiz essa escolha porque queria relacionamentos saudáveis, verdadeiros, não aguentava mais esconder, pedir segredo aos meus companheiros", diz. "Essa decisão mudou a minha vida pessoal, mas não minha música."

INTENSIDADE

Sua músicas têm uma intensidade e uma originalidade raras na música pop.

Em "My Nene", o narrador brinca com uma paixão nova, mas não sabemos se é homem ou mulher; em "You Don't Know Me" o clima muda, e Mykki Blanco revela como se sentiu ao divulgar que era portador do HIV.

As duas faixas estão em "Mykki" (2016), seu primeiro disco. "Quando eu me abri sobre ser HIV positivo, percebi que muita gente que eu conhecia não sabia realmente quem eu era. Foi difícil escrever essa música porque me senti muito vulnerável."

Ele lista os artistas cujas obras têm, a seu ver, relações com seu trabalho: "Sempre gostei de Bjork, Erykah Badu, Ariel Pink, Nicki Minaj, e me inspiro muito em David Bowie –e em Caetano Veloso".

Mas o que ele quer, diz, é "fazer música autêntica". Escrever letras autobiográficas virou quase uma missão.

"Nunca imaginei que minha vida fosse se tornar tão rock'n roll. Mas é a minha vida, é a minha história. Trabalho muito, minha vida não é uma festa contínua e não quero me acomodar."

Antes de criar a persona Mykki Blanco, ele escreveu um livro de poemas, "From the Silence of Duchamp to the Noise of Boys" e, pouco antes de lançar o disco, considerou abandonar a música para se dedicar ao ativismo.

Mudou de ideia ao receber um e-mail do produtor francês Woodkid. Então foi para Paris e dedicou-se por três meses, durante os quais ficou sóbrio, à gravação de "Mykki".

"Acordava, escrevia, me concentrava. Tive um tempo para trabalhar no disco sem me preocupar com outros assuntos. Já voltei a sair, a ir a festas. Felizmente o estigma quanto a quem tem HIV mudou. Levo uma vida saudável como qualquer pessoa."

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FESTA QUEERIDX
QUANDO sex. (9), às 23h
ONDE Cine Paissandu, largo do Paissandu, 62, São Paulo
QUANTO R$ 35


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