Folha de S. Paulo


Poemas inéditos de Sylvia Plath são descobertos após 54 anos de sua morte

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Sylvia Plath é considerada uma das mais importantes escritoras norte-americanas
A poeta Sylvia Plath

Dois poemas inéditos da escritora americana Sylvia Plath foram encontrados 54 anos após sua morte.

A descoberta aconteceu na Lilly Library, localizada na Universidade de Indiana, em Bloomington, durante uma pesquisa que o acadêmico Peter K. Steinberg fazia para o lançamento de um novo livro sobre a autora.

Os poemas estavam registrados em folhas de carbono guardadas em um dos muitos cadernos de Plath. Ambos haviam sido datilografados e tinham sido vistos previamente pelo pesquisador que não pudera identificar com clareza o conteúdo devido à idade avançada dos papéis.

"Eu peguei o papel-carbono de dentro do caderno, segurei-o contra a luz e fiquei intrigado. Eu tinha uma pequena lanterna e uma lupa e fiquei surpreso quando consegui ler um pouco do texto. Reconheci o título de um dos poemas, 'Megrims', e lembrei que já havia visto essa palavra listada em um dos calendários de bolso de Plath. Foi aí que eu percebi: 'Este é um poema perdido!'", conta Steinberg.

Datados de 1956, os escritos foram criados no início do conturbado relacionamento da autora com seu marido, o poeta britânico Ted Hughes. O primeiro, "To a Refractory Santa Claus", foi escrito após a volta de sua lua de mel, em dezembro do mesmo ano.

O casal havia passado cerca de seis semanas no verão de Benidorm, na Espanha, entre julho e agosto. Na época, Plath vivia em Cambridge, Inglaterra, onde estudava, e aborda com tom saudosista a diferença entre o clima frio do Reino Unido e o calor da costa espanhola. Pouco depois, o tema voltou a aparecer em suas obras "Fiesta Melons" e "Alicante Lullaby".

No segundo poema, "Megrims" (depressão), um eu lírico feminino paranoico relata, num monólogo a um médico, uma série de acontecimentos perturbadores, como aranhas em xícaras de café, supostos ataques de corujas e objetos estranhos que encontra na banheira.

Este, segundo o estudioso, foi mais difícil de decifrar devido ao seu tamanho e complexidade dos versos, mas é um exemplo da habilidade da autora em transformar suas experiências pessoais em arte.

Steinberg diz que, apesar desses escritos serem inferiores aos trabalhos da fase mais madura de Plath, a descrição imagética detalhada neles contida o surpreendeu, e que a descoberta é essencial para compreender a evolução criativa da poeta, além de ajudar a apreciar os poemas já conhecidos da autora com um embasamento maior.

Os textos foram publicados no livro "These Ghostly Archives: The Unearthing of Sylvia Plath", numa parceria entre o pesquisador e a escritora britânica Gail Crowther.

"Esses poemas são tentativas precoces de Plath de tentar desenvolver suas habilidades de detalhamento imagético, um tom e uma certa voz. Eles são fascinantes porque revelam uma jovem escritora, de apenas 24 anos, aprendendo sua arte. Nós conseguimos ver os flashes da voz posterior de Plath que conheceríamos lá no período de 'Ariel'", afirma Crowther.

A Redoma De Vidro
Sylvia Plath
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"Como Peter afirmou, não sabemos se os manuscritos originais desses poemas foram destruídos por Plath ou se eles simplesmente estão desaparecidos. Vamos esperar que eles tenham apenas sumido e que vão aparecer um dia para ocuparem um lugar em seu arquivo, junto com os outros poemas anteriores", diz a escritora.

No cinema, o livro "A Redoma de Vidro" (1963), um dois mais famosos da autora, ganhará sua segunda adaptação audiovisual. Primeiro longa-metragem dirigido pela atriz Kristen Dust, o filme será protagonizado por Dakota Fanning e tem estreia prevista para 2018.


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