Folha de S. Paulo


SP recebe maestro inglês Trevor Pinnock, 'astro pop' da música erudita

O mundo comemora o cinquentenário do álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos Beatles, mas se esqueceu de que 1967 foi o ano em que a música antiga conquistou o público juvenil do planeta –e começou a influenciar os conjuntos de rock (o termo "banda" passou a ser usado em 1968).

Um dos astros de 20 anos daqueles tempos da jovem música antiga era o cravista e maestro inglês Trevor Pinnock. Ele estreou em 1966, aos 20 anos, e se tornou um astro pop do segmento aos 26, em 1972, ao fundar a orquestra The English Concert, ainda em atividade.

Enquanto os Beatles lançaram a moda da música clássica no rock, usando trechos barrocos em seus discos, a música histórica de Pinnock e outros jovens –hoje conhecida como música historicamente informada (MHI)– valorizava a produção dos compositores anteriores ao período romântico, em vigor mais ou menos entre 1830 e 1890.

Dessa moda musical "vintage", surgiram centenas de grupos de "música antiga" pelo planeta. A exemplo dos Beatles na música popular, a nova onda "para instrumentos de época" renovou tanto a forma de executar música clássica quanto a sensibilidade para ouvi-la.

"Os garotos de minha geração se engajaram no movimento da música histórica porque era uma viagem rumo ao desconhecido", diz Pinnock, por telefone, à Folha.

"Tocar música barroca e medieval era tão excitante quanto montar um conjunto de rock. A gente se entusiasmava pelo mesmo espírito contestador do pop. Nós, músicos clássicos estreantes, nos revoltamos contra o gosto estabelecido da música erudita de então."

Os tempos se alteraram, e o que era rebelde foi canonizado. Consagrado por suas descobertas, turnês e gravações, Pinnock se apresenta hoje e amanhã com a Orquestra de Câmara de Potsdam e o flautista suíço Emmanuel Pahud, como parte da temporada da Sociedade de Cultura Artística.

No programa, obras do classicismo do século 18: a "Sinfonia nº 47 em Sol Maior", de Haydn, a "Sinfonia nº 29 em Lá Maior K 201" e o "Concerto para Flauta nº 2 em Ré maior K 314", de Mozart, além do "Concerto para Flauta nº 7 em Mi Menor", do menos conhecido compositor francês François Devienne (1759-1803).

RESGATE

O flautista Pahud trabalha com Pinnock há dez anos. Eles gravaram juntos a integral dos concertos para flauta de Carl Philip Emanuel Bach (1714-1788), filho de Johann Sebastian e um dos compositores que Pinnock resgatou do esquecimento ao longo de sua carreira.

"O programa do concerto é variado e interessante", afirma Pinnock. "Mas não o tocamos em instrumentos de época, nem o dirijo do cravo. Não é mais necessário" diz.

"O que importa é a forma como executamos as obras, segundo os procedimentos e conhecimento que inauguramos nos anos 60, algo que se disseminou até nas orquestras mais tradicionais."

É a terceira vez que Pinnock vem ao Brasil, a segunda há 17 anos, com o English Concert. Ele saiu da orquestra em 2003 e tem-se devotado a reger obras de todos os períodos musicais. "Música antiga deixou de ser uma novidade", diz. "Virou um pretexto para repetir fórmulas."

Ele gravou recentemente as sinfonias nº 4 de Gustav Mahler e a nº2 de Anton Bruckner –peças que sua geração abominava e hoje abraça.

"Não gosto de ser colocado em uma categoria", diz. "Essa era uma mania de um tempo em que se vendiam discos em grande escala e a música histórica era moda."

Para Pinnock, "hoje, com serviços de streaming e smartphones, isso passou". "Música não cabe em um gênero ou uma etiqueta de mercado. Ela deve ser uma forma de unir os seres humanos e transportá-los para outros mundos." É o que Pinnock promete, por difícil que possa parecer.

ORQUESTRA DE CÂMARA DE POTSDAM
QUANDO ter. (6) e qua. (7), às 21h
ONDE Sala São Paulo, pça. Júlio Prestes, 16, (11) 3367-9500
QUANTO de R$ 50 a R$ 430


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