Folha de S. Paulo


Crítica

Diretor chinês conduz 'A Vida Após a Vida' com sutileza e rigor

Divulgacao
A vida apos a vida [Zhi fan ye mao, China, 2016], de Zhang Hanyi (Zeta Filmes). Gênero: drama. Elenco: Zhang Li, Zhang Mingjun. Classificação: verifique em www.justica.gov.br/seus-direitos/classificacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***Restrição:
Cena do filme chinês 'A Vida Após a Vida', de Zhang Hanyi

A VIDA APÓS A VIDA (muito bom)
QUANDO: EM CARTAZ
ELENCO: ZHANG LI E ZHANG MINGJUN
PRODUÇÃO: CHINA, 2016, 14 ANOS
DIREÇÃO: ZHANG HANYI
Veja salas e horários de exibição.

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Por causa do avanço de um enorme empreendimento industrial, o pequeno povoado de Shanxi, no interior da China, está devastado. Ainda vivem por lá Ming Chun (Zhang Mingjun) e o seu filho adolescente, Leilei (Zhang Li), além de poucos moradores.

Logo nas primeiras cenas, o espírito da mulher de Chun, que havia morrido uma década antes, volta ao lugarejo e assume o corpo do filho. A missão dela é remover uma árvore plantada pela família diante da casa onde eles viviam para uma área onde possa sobreviver.

Dito assim, "A Vida após a Vida" parece uma roubada. Filmes de cunho espiritual, estejam ou não ligados a uma religião, costumam soar doutrinários ou apelativos. Ou ambos, o que é mais frequente.

Pois em sua primeira direção de um longa-metragem, o jovem diretor Zhang Hanyi escapa dessas armadilhas ao conduzir a trama com uma combinação de sutileza e rigor.

Nos festivais pelos quais passou, Zhang Hanyi tem sido comparado ao cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul, de "Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas", vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2010. Em ambos, a abordagem da transcendência não se propõe a dirimir os mistérios humanos. Pelo contrário, aliás.

No entanto, o cinema de Zhang Hanyi nos remete mais diretamente aos filmes de Jia Zhang-Ke ("Plataforma", "Em Busca da Vida"), não por acaso um dos produtores de "A Vida após a Vida". Os deslocamentos humanos em uma China sob intensa transformação sempre foram assunto de primeira grandeza para Zhang-ke e agora ganham a interpretação de Zhang Hanyi.

Mirar a monumentalidade chinesa sem perder de vista as filigranas da vida espiritual não é para qualquer um. O que Hanyi faz é uma proeza. Após a vida, há cinema.


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