Folha de S. Paulo


Professora foi a primeira modelo a ser fotografada por Duran para 'Playboy'

Eni Novakoski

Eni Helena Novakoski, 58, mantém em Ponta Grossa, no interior do Paraná, uma escola de inglês. Foi a primeira modelo a ser fotografada por J. R. Duran para a "Playboy", em 1980.

Ela relembra os tempos de atriz de pornochanchada e de assistente de palco de Silvio Santos. Novakoski atuou também nos EUA –diz ter feito testes para o remake de "Psicose".

Aos 58, sonha em se casar com um "romântico à moda antiga".

Leia seu depoimento à Folha.

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Quando eu era uma adolescente, em Ponta Grossa, no interior do Paraná, admirava as modelos em capas de revista e pensava que um dia seria eu em seus lugares. Hoje, aos 58 anos, sou dona de uma escola de inglês na mesma cidade. Mas nem sempre foi assim.

Para deixar a casa dos meus pais, me casei aos 14 anos, em 1973. O matrimônio, de mentirinha, me levou a São Paulo, onde uma prima morava. Por algum tempo, a avenida Paulista foi minha passarela, onde desfilava de salto na expectativa de "abafar".

Pelo visto funcionou. Um amigo da minha prima me levou para fazer testes para trabalhar com Silvio Santos. O apresentador gostou das covinhas de minhas bochechas e me escolheu como uma de suas assistentes de palco.

Ao mesmo tempo, era vocalista de uma banda de rock, a Calibre 38. Como trabalhava também como modelo das marcas Valisere, Darling e US Top, as viagens profissionais não me deixaram seguir a carreira de cantora.

Foi como modelo que conheci J. R. Duran. Quando ele foi chamado para trabalhar para a "Playboy", me convidou para ser sua primeira fotografada para a revista.

Na época, eu não queria posar ou fazer nu. Como era modelo de grandes marcas, aceitei sob a condição de não fazer nu frontal. Era muito tímida. Todo mundo acha que modelo, ator, cantor não pode ser tímido, mas a maioria é.

Fui playmate da edição de fevereiro de 1980, que estampava Alcione Mazzeo na capa. A partir dela, Duran se tornou o fotógrafo oficial da revista.

Naquele período, eu circulava com gente importante, astros e estrelas, e frequentava a Hippopotamus, uma boate carioca famosa na época.

À entrevista que acompanhava as fotos na "Playboy", eu disse que não gostava de pornochanchada. Mas fiz pelo menos doze filmes do gênero, e não assisti a nenhum.

Lembro de atuar como detetive em "Pensionato das Vigaristas", que era uma cópia de "As Panteras", e do "Estripador de Mulheres", em que fiz uma empregada que era morta pelo personagem de Everton de Castro.

Foi no cinema de pornochanchada que conheci meu ex-marido, Arnaldo [Zonari Filho], com quem fui casada por oito anos. Ele era produtor e dono de salas de cinema e foi quem me levou para morar nos Estados Unidos.

Minha carreira como modelo e atriz acabaria lá, após descobrir que não poderia ter filhos. Fiz vários tratamentos e cirurgias para retirada de cistos no ovário, comecei a tomar hormônios e aquela mulher com quem o Arnaldo tinha se casado deixou de existir.

Cheguei a ser convidada para testes do remake de "Psicose", de Alfred Hitchcock, porque me achavam parecida com a Janet Leigh. Mas a barriga me venceu, ela já começava a aparecer e aí foi o fim.

Eu me formei em inglês na Loretto High School, gerenciei dois bancos, me casei com um americano e fui morar em Hollywood, em Los Angeles, onde cheguei a fazer figuração em filmes de Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone. Quase me esqueço: como modelo, também fiz testes para a "Playboy" americana.

Essas lembranças ficam guardadas nas minhas gavetas e paredes. Hoje, dou aula para empresários e interessados em um inglês direcionado aos negócios. Uma vida bem rotineira, que levo desde o fim dos anos 1990, quando deixei os EUA.

Restaram-me dois sonhos: contar minha vida em um programa de TV e me casar com um homem que seja um romântico à moda antiga.

Acho que a minha história é um exemplo para essas meninas mais novas, que querem ganhar fama. Ela é boa, você pode até tomar uma Dom Pérignon, frequentar os melhores clubes, usar as melhores roupas, mas tenha a noção de que isso um dia acaba.


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