Folha de S. Paulo


Em novo disco, Cida Moreira preserva encantamento infantil com a música

Há dois anos, a cantora e pianista Cida Moreira lançou seu 11º disco, o álbum de estúdio "Soledade". Agora, pelo mesmo selo independente Joia Moderna, sai "Soledade Solo", gravado ao vivo em 2015. Vale explicar: são repertórios totalmente diferentes, com uma ligação muito sutil.

"Soledade" estava gravado, mas ainda não lançado, quando Cida decidiu se apresentar na Casa de Francisca, em São Paulo. "Não tem nada do que tinha gravado no estúdio. Fiz o show com músicas que estavam na minha cabeça. Poderia dizer que é uma pequena reflexão sobre o que 'Soledade' me inspirava", diz a cantora à Folha.

As faixas reúnem autores queridos de Cida, como Caetano Veloso ("Cajuína" e "Recanto Escuro"), Chico Buarque ("Querido Diário"), Tom Waits ("Anywhere I Lay My Head"), Leonard Cohen ("Hotel Chelsea No. 2") e Kurt Weill ("Youkali Tango").

Ana Alexandrino/Divulgação
Cida Moreira em sua casa, em São Paulo
Cida Moreira em sua casa, em São Paulo

HISTÓRIA PESSOAL

Ela diz que todas as músicas fazem parte de sua história pessoal e musical. "A música 'Na Hora do Almoço', do Belchior, amo de paixão. Eu me lembro do tempo em que os cearenses vieram para São Paulo, nos anos 1970. Tenho um compacto duplo do Pessoal do Ceará, com Belchior cantando 'Na Hora do Almoço'."

"Chelsea Hotel No. 2", de Leonard Cohen, fala do namoro dele com Janis Joplin, em 1968. Cida conta que um pedaço da letra a emociona até hoje. "Quando ela diz gostar de gente bonita, e ele responde: 'Nós não somos bonitos, mas temos a música'."

"Soledade Solo" é uma história pessoal. O disco "Soledade" era a história de uma viagem. Foi inspirado por 60 dias rodando o filme "Deserto", no sertão da Paraíba.

"Se você me permitir uma licença poética, acho que esse Brasil que canto naquele disco é feito de coisas extintas. Até porque eu também estou me extinguindo."

Cida conta que o repertório do álbum ao vivo é feito de canções que falam de pessoas muito sozinhas, mas não no sentido do "coitadinho".

"É uma solidão que está quase instalada numa pessoa como eu", diz. "Eu me considero uma mulher velha, porque tenho 65 anos, uma artista antiga e, ao mesmo tempo, carrego comigo as sensações e encantamentos que tenho desde quando era criança."

LIBERDADE

Ela acha que sua geração teve liberdade absoluta, com erros e acertos. Uma geração de artistas que fizeram de sua arte o que bem entenderam, "para o bem e para o mal".

"Não gosto dessa conversa de que o artista paga um preço por suas escolhas. Todos pagam. Encontro pessoas que perguntam para mim se consigo viver de música. Pessoas que não têm o menor pudor de perguntar coisas constrangedoras. A única coisa que respondo é 'sim'. E ponto. Jamais me achei uma coitada porque artista sofre."

Cida diz só se sentir feliz quando toca. "Viro uma criança com meu piano. Estou dando essa entrevista sentada ao piano que meu pai me deu quando fiz seis anos. Ensaio nele, é meu ganha-pão."

Em 6 e 7 de maio, ela faz no Sesc Belenzinho com Maria Alcina o show "Corações Vagabundos", cantando Caetano. Nos dias 19 e 20, retorna à Casa de Francisca com "O Teatro do Ornitorrinco Canta Brecht e Weill". No dia 24, faz recital solo de Brecht e Weill no Theatro Municipal. Só depois vai começar os shows da turnê de "Soledade Solo".

SOLEDADE SOLO
ARTISTA Cida Moreira
LANÇAMENTO Joia Moderna
QUANTO R$ 30 (CD)


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