Virgindade, telenovela, astrologia: sobre o que mais uma peça inspirada no universo feminino tem a dizer em 2017?
"Mulheres Ácidas" engana o olho ao colocar essas e outras convenções em perspectiva. O espetáculo amarra quatro histórias intermitentes em convívios breves ou continuados.
A dramaturgia de Cristiane Wersom combina riso e insights em termos de intimidade, comportamento e amenidades. Diálogos e narrações lembram o estilo aparentemente descompromissado de Domingos Oliveira nas confissões e "feminices" adolescentes, balzaquianas e quarentonas. A ótica da autora e intérprete, porém, considera nuances reflexivas que a visão masculina não alcança com tanta propriedade.
Cristiane joga com Marianna Armellini da primeira à última cena, parceiras de mais de década no palco, na internet e na televisão.
A química das comediantes é um trunfo. Elas evitam os cacoetes do humor ligeiro dos canais digitais. Interagem firme para comunicar a textura da obra.
Assumem brechas tragicômicas e existenciais sob a lógica de que menos pode ser mais. Filosofia essencial na direção de Cristiane Paoli Quito, adepta de poucos elementos sobre o tablado e sábia nas correlações corpo/espaço.
A acidez não significa, necessariamente, atitude de rechaço. As insubmissas Marianna e Cristiane levam um bocado das gerações passadas e presentes representadas em suas convicções e incertezas.