Folha de S. Paulo


Crítica

Comediantes evitam humor ligeiro na peça 'Mulheres Ácidas'

Lenise Pinheiro/Folhapress
Sao Paulo, SP, Brasil. Data 21-02-2017. Espetáculo Mulheres Ácidas. Atrizes Cristiane Wersom (esq/blusa branca) e Marianna Armellini (dir/blusa preta). Teatro Eva Herz. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress.
Atrizes Cristiane Wersom (à esq.) e Marianna Armellini na peça 'Mulheres Ácidas'

Virgindade, telenovela, astrologia: sobre o que mais uma peça inspirada no universo feminino tem a dizer em 2017?

"Mulheres Ácidas" engana o olho ao colocar essas e outras convenções em perspectiva. O espetáculo amarra quatro histórias intermitentes em convívios breves ou continuados.

A dramaturgia de Cristiane Wersom combina riso e insights em termos de intimidade, comportamento e amenidades. Diálogos e narrações lembram o estilo aparentemente descompromissado de Domingos Oliveira nas confissões e "feminices" adolescentes, balzaquianas e quarentonas. A ótica da autora e intérprete, porém, considera nuances reflexivas que a visão masculina não alcança com tanta propriedade.

Cristiane joga com Marianna Armellini da primeira à última cena, parceiras de mais de década no palco, na internet e na televisão.

A química das comediantes é um trunfo. Elas evitam os cacoetes do humor ligeiro dos canais digitais. Interagem firme para comunicar a textura da obra.

Assumem brechas tragicômicas e existenciais sob a lógica de que menos pode ser mais. Filosofia essencial na direção de Cristiane Paoli Quito, adepta de poucos elementos sobre o tablado e sábia nas correlações corpo/espaço.

A acidez não significa, necessariamente, atitude de rechaço. As insubmissas Marianna e Cristiane levam um bocado das gerações passadas e presentes representadas em suas convicções e incertezas.

MULHERES ÁCIDAS
QUANDO ter. e qua., às 21h; até 3/5
ONDE teatro Eva Herz - Livraria Cultura, av. Paulista, 2.073, tel. (11) 3170-4059
QUANTO R$ 40; 14 anos


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