Folha de S. Paulo


Crítica

Drama 'Com os Punhos Cerrados' tenta estabelecer empatia

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Cena do longa 'Com os Punhos Cerrados'
Cena do longa 'Com os Punhos Cerrados'

Realizado com pouquíssimos recursos meses antes da onda de protestos que culminou com as manifestações de junho de 2013, este drama interpretado e dirigido por Pedro Diógenes e os irmãos Luiz e Ricardo Pretti nasce do inconformismo em relação ao que acontecia (e continua acontecendo) no país e das interrogações sobre a forma de representá-lo.

Assim como em outros filmes do coletivo cearense Alumbramento, ao qual pertence o trio, "Com os Punhos Cerrados" chama a atenção pela pouca cerimônia em relação às convenções, sejam elas temáticas ou estéticas.

Três amigos divulgam mensagens anarquistas por meio de uma rádio pirata até que começam a ser perseguidos. Reduzida ao mínimo, essa história com ares de filme policial é contada de maneira muito livre, preferindo provocar o espectador a buscar estabelecer empatia.

Os três rapazes vivem fechados numa casa de onde fazem as transmissões que interferem nas rádios comerciais. O conteúdo é majoritariamente formado por canções anarquistas e leituras de textos de Antonin Artaud, Oswald de Andrade e outros autores.

Além das leituras, pouco se ouve a voz deles. Os silêncios são significativos da angústia, da consciência do fracasso, da falta de perspectivas. A jovem (Samya de Lavor) –que chega como espiã mas acaba se envolvendo com os protagonistas–, outra figura silenciosa, dá ressonância sensível, emocional, ao claustrofóbico impasse dos rapazes.

As imagens –frequentemente pouco nítidas, muitas vezes estáticas e outras vezes fragmentadas e cheias de sobreposições– têm um duplo impacto, contraditório.

Em certos momentos estabelecem uma atmosfera frenética, de vertigem. Em outros ajudam a criar um estado de contemplação reflexiva, reiterado pelos silêncios e pela sucessão incessante dos fragmentos dos textos lidos na rádio, que, entretanto, correm o risco de se transformar em meros slogans.

Essa contemplação se rompe numa cena completamente diferente do resto do filme, um dos seus melhores momentos: a intervenção de um poeta, que é entrevistado pela rádio. É dele o melhor diagnóstico da situação, o discurso mais lúcido. É o único que tem voz própria, vigorosa.

A cena final, dos três nas dunas, quando apesar das perseguições acabam saindo da toca, é um gesto de resistência, mas impregnado de melancolia.

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COM OS PUNHOS CERRADOS
DIREÇÃO: Luiz Pretti, Ricardo Pretti e Pedro Diógenes
ELENCO: Luiz Pretti, Ricardo Pretti, Pedro Diógenes e Uirá dos Reis
PRODUÇÃO: Brasil, 2014, 14 anos
QUANDO: em cartaz


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