Folha de S. Paulo


Para aproximar ocidentais de tradição, banda toca mantras com som jazzístico

A música veio primeiro. Foi para manter a postura e a concentração que o violonista clássico Rafael Bogoni recorreu à ioga. A prática, da qual se tornaria professor, não apenas moldou seu corpo e treinou sua mente como redefiniu sua carreira. "Percebi que a vida na música erudita não era para mim, é muito solitário. Prefiro estar com mais gente", diz.

Com outros professores, passou a tocar alguns mantras "por brincadeira". "Eu achava legal, mas sentia falta de uma coisa mais organizada e ensaiada, que não fosse tão improvisada e solta", diz.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Sergio Taioli, Chris Du Voisin, Andressa Feigel, Rafael Bogoni e Fabio Marin, da Banda Samgita
Sergio Taioli (à esq.), Chris Du Voisin, Andressa Feigel, Rafael Bogoni e Fabio Marin, da Banda Samgita

Em paralelo, ele integrava um grupo de jazz instrumental do qual, com parte dos membros, formou a Banda Samgita, dedicada à prática do kirtan, encontros espirituais em que devotos entoam repetidamente mantras a fim de atingir um estado meditativo.

"Como a gente tem essa linguagem de jazz e da música popular, mudou totalmente a cara do que seria um mantra, que é uma música de batuque, às vezes tem um harmônio ou algum instrumento indiano, como o sitar", diz.

Para Bogoni, os kirtans tradicionais indianos trazem uma sonoridade muito específica, difícil de ser assimilada pelos ocidentais. "Quando a música é familiar, aquilo te abraça, é mais fácil ter acesso."

Formada por Bogoni nos vocais e na guitarra, Andressa Feigel nos vocais, Chris Du Voisin no baixo, Fabio Marin no sax e Sergio Taioli na percussão, a banda pegou emprestado o nome de um dos deuses supremos do hinduísmo para batizar o álbum de estreia, "Shiva" (2012).

Nele, estão composições como "Om Namah Shivaya", composta depois que Bogoni assistiu ao filme "Às Margens do Rio Sagrado" (2005).

Já "Hanuman", que evoca o deus-macaco, o guitarrista compôs inspirado na bossa nova, mas tomou forma como smooth jazz.

Bogoni não é adepto do rigor das tradições e diz que não quer catequizar ninguém. "Não quero que pareça uma coisa religiosa, mas tem um lado místico."

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