Folha de S. Paulo


Mente perturbada é centro da peça 'Tom - 208 Beijos e Abraços sem Fim'

Para investigar as perturbações mentais de um homem, a companhia Marcos Damaceno coloca em cena a própria mente do personagem. "Tom - 208 Beijos e Abraços sem Fim", que encerra suas sessões no Festival de Teatro de Curitiba neste domingo (9), não está longe da linguagem ou das temáticas abordadas nos trabalhos anteriores do grupo, formado há 14 anos pelo diretor Marcos Damaceno e pela atriz Rosana Stavis.

Desde "Água Revolta" (2003), a companhia se debruça sobre a mente humana. "Artista de Fuga" (2015), versão do encenador para "Como me Tornei um Artista de Fuga", de Guto Gevaerd, caminhou para algo mais abstrato, o inconsciente, que agora toma forma também em "Tom".

Lenise Pinheiro/Folhapress
Curitiba, PR, Brasil. Data 30-03-2017. Espetaculo Tom 208 beijos e abraçossemfim. Ator Ranieri Gonzalez. Teatro Novelas Curitibanas. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress.
Ranieri Gonzalez protagoniza peça da Companhia Marcos Damaceno

O personagem-título (papel de Ranieri Gonzalez) é colocado ao centro do palco, um conjunto de três círculos concêntricos. Ao redor dele, transitam os demais atores, que não interpretam personagens delineados, mas funcionam como vozes da mente de Tom, com falas sobrepostas, por vezes confusas –para tanto, usam microfones que fazem suas falas ecoarem, como se penetrassem em todo aquele ambiente.

Tom se refugia nesse espaço mental, fala frases soltas, fragmentos de suas angústias e também anseios de carinho. "É uma pessoa que fica trancada e não realiza nada", resume o ator Zeca Cenovicz.

As vozes são complementadas pela música ao vivo criada por Gilson Fukushima e Alexandre Nero, parceiros de longa data do grupo.

A trilha é tocada por uma banda ao fundo do espaço cênico e cantada pelo próprio elenco. "É também um espetáculo para fechar os olhos e ouvir essas vozes, que passam por todos nós", comenta o diretor.

Como nos trabalhos anteriores da companhia, os atores quase não se movimentam. Quem quebra essa imobilidade é o cenário, cujos círculos giram. Assim, essas figuras circulam, como se "flutuassem" em torno do personagem central.

É uma representação "desse movimento da mente que não para, que não consegue ter foco, essas vozes nos cobrando", diz Damaceno, que em 2013 passou por uma forte depressão e ficou quase dois anos distante dos palcos. Depois da crise, nasceria "Artista de Fuga".

NOVELAS CURITIBANAS

Por causa do tamanho do cenário, a companhia apresenta "Tom" não na sua sede, mas num espaço maior, a algumas quadras dali. A peça ocupa o teatro Novelas Curitibanas, casarão no centro de Curitiba construído no início do século 20 e que já abrigou um bordel.

Em 1992, inaugurou-se ali o atual centro cultural com "O Vampiro e a Polaquinha", texto de Dalton Trevisan com direção de Ademar Guerra.

No Novelas, Marcos Damaceno aproveita as janelas (a fuga dessa mente perturbada), nas quais cria um efeito de chuva.

A companhia deve levar a peça ao Filo - Festival Internacional de Londrina e negocia fazer uma temporada de "Tom" e "Artista de Fuga" em São Paulo.

TOM - 208 BEIJOS E ABRAÇOS SEM FIM
QUANDO encerra temporada hoje, às 19h
ONDE Teatro Novelas Curitibanas, r. Presidente Carlos Cavalcanti, 1.222, Curitiba, tel. (41) 3321-3358
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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