Folha de S. Paulo


Prefeitura de São Bernardo encerra contrato e retoma polo da Vera Cruz

Divulgação
Acervo da Vera Cruz
Acervo da Vera Cruz

O que havia sido anunciado como um "evento histórico para o cinema brasileiro" se tornou poeira. Sob o argumento de que o local estava abandonado, a Prefeitura de São Bernardo do Campo (SP) rescindiu o contrato de concessão do polo cinematográfico da Vera Cruz, vigente desde 2015, e retomou o espaço.

Agora, afirma o prefeito, será realizado um novo edital para a exploração do complexo audiovisual, e a Telem, empresa que até então detinha o direito de exploração do local, acionada na Justiça.

"Foi uma concessão extremamente nociva para o município", diz à Folha o prefeito Orlando Morando (PSDB). Ele sucedeu o petista Luiz Marinho, cuja gestão firmou o contrato com a Telem, assinado em junho de 2015.

Nos termos da concessão, a Telem, vencedora do edital de concessão, poderia explorar o local por 30 anos sob a condição de operar o Centro de Audiovisual de São Bernardo do Campo, manter o acervo da Vera Cruz, ampliar o número de estúdios (de dois para sete) e realizar as obras para construção de um cinema e de uma incubadora de empresas naquele local.

O orçamento total do projeto era de R$ 158,3 milhões.

Ainda segundo o prefeito, depois de quase dois anos de contrato, o acervo da Vera Cruz estava abandonado, e os professores do Centro de Audiovisual sem receber salário desde outubro passado.

A Secretaria de Cultura de São Bernardo assumirá o cuidado do acervo e parte dele será doado à Pinacoteca do município. Já o pavilhão, onde seriam construídos os estúdios, ficará a cargo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, que usará o espaço para shows e eventos até que seja firmado outro contrato com uma nova concessionária.

Morando afirma que até o segundo semestre já terá elaborado um novo edital para exploração do polo da Vera Cruz. Segundo ele, estão na mira estúdios e emissoras de TV -uma delas visitaria as instalações nesta semana, mas ele não revelou qual.

Caso nenhuma empresa do setor demonstre interesse na exploração do polo, "outro uso será dado", segundo ele.

O caso Vera Cruz não foi o primeiro imbróglio em que se envolveu a Telem, especializada na construção de cinemas, teatros e auditórios. A empresa também fez parte do consórcio responsável pelas obras do complexo audiovisual de Paulínia, no interior, a 117 km de São Paulo.

No ano passado, o Tribunal de Contas do Estado julgou irregular o contrato entre a Telem e a prefeitura de Paulínia, orçado em R$ 147,6 milhões. Apontou, entre outros, defasagem no orçamento e distribuição desequilibrada entre as obrigações do consórcio e do município.

Procurada, a empresa Telem informou, via assessoria, que não comentaria o caso de Paulínia ou o da Vera Cruz.

TRAJETÓRIA INFELIZ

Tanto Paulínia quanto a Vera Cruz se inserem num ciclo malfadado de tentativas de criar estúdios no Brasil.

A Vera Cruz foi criada como companhia cinematográfica em 1949, numa associação entre o produtor Franco Zampari e o empresário Francisco Matarazzo Sobrinho.

Durante cinco anos, foram rodados nos estúdios mais de 20 longas-metragens -de chanchadas a produções autorais-, entre elas 'O Cangaceiro' (1953), de Lima Barreto, longas de Adolfo Celi e comédias de Amácio Mazzaropi. A Vera Cruz faliu em 1954.


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