Folha de S. Paulo


Ex-fiel comanda série de TV do A&E com críticas à igreja de Tom Cruise

Miller Mobley/Divulgação
A atriz Leah Remini, autora de 'Troublemaker'; ela apresenta programa no canal A&E feito a partir do livro, no qual questiona a cientologia ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Leah Remini, autora de 'Troublemaker', apresenta a série

Para convidar a atriz Leah Remini para seu casamento, em 2006, Tom Cruise e Katie Holmes cobraram pedágio: ela deveria convencer os amigos mais famosos Jennifer Lopez e Marc Anthony, então um casal, a irem junto. Os noivos nem os conheciam direito.

Na festa, uma cena impressionou Leah: a filha de sete meses de Tom e Katie chorava no chão do banheiro. Três mulheres a encaravam. "Elas continuavam a dizer 'Suri! Suri!', num tom que soava como se estivessem instruindo um adulto a se recompor."

Esse foi apenas um dos mais de 12 mil dias que Leah passou como adepta da cientologia, segundo sua própria conta. A religião de celebridades como Cruise e John Travolta promete curar cicatrizes de experiências ruins grudadas em nosso subconsciente, como escreveu em 1950 seu fundador, L. Ron Hubbard.

A gênese, segundo a cientologia (restrita a iniciados, mas vazada na internet): há 75 milhões de anos, o imperador galáctico Xenu trouxe bilhões de aliens à Terra e os dizimou, a fim de resolver a superpopulação do universo. Mas suas almas vagantes viraram fonte de moléstias. Por isso a humanidade sofre.

Hubbard também escreveu muita ficção científica. Uma delas originou "A Reconquista", filme de 2000 com Travolta. A saga se passa nos anos 3000, quando os alienígenas psyclos dominam o planeta.

Conhecida como a esposa da série "The King of Queens", Leah entrou na religião aos nove anos, seguindo a mãe. Em 2013, aos 43, abandonou o que hoje chama de seita. Dois anos depois, lançou o livro "Troublemaker: Surviving Hollywood and Scientology " (causadora de problemas: sobrevivendo a Hollywood e à cientologia").

Nesta terça (21) o A&E estreia "Escravos da Cientologia", série documental com oito episódios apresentados pela atriz —a segunda temporada do programa já foi garantida nos Estados Unidos.

Em teleconferência com jornalistas, ela conta à Folha como essa "organização poderosa com ativos de bilhões de dólares" tenta intimidá-la por denunciar abusos físicos, mentais e sexuais no grupo.

"Eles não têm a coragem para me confrontar diretamente. O que fazem é se esconder atrás do computador, ir no Twitter e me atacar."

Leah virou alvo de um massacre virtual após decidir ir a público contra a cientologia. Há até um site que a acusa de ter "ódio no coração e dinheiro na mente". "Ela se aliou à A&E para desavergonhadamente transformar intolerância religiosa numa commodity, ao tratar tudo como entretenimento."

A série traz depoimentos como o de Amy, ex-cientologista que diz ter sido estuprada aos 14 por um superior de 35 anos. A igreja não o denunciou às autoridades e, segundo Amy, ensina que coisas ruins (como estupro e câncer) são consequências de "crimes" passados e devem ser curados com a cientologia —a igreja nega as acusações.

"Lá você não conseguia pensar", diz Leah ao telefone. "Eles não acreditam num Deus. Não há Deus além de Hubbard e talvez Tom Cruise."

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NA TV
"Escravos da Cientologia"
QUANDO terça (21), 23h15, A&E


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