Folha de S. Paulo


Crítica

'Os Cowboys' pode ser o melhor filme lançado em 2017

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Cena de 'Os Cowboys', filme do francês Thomas Bidegain
Cena de 'Os Cowboys', filme do francês Thomas Bidegain

O ano está só começando, mas já temos um sério candidato a melhor filme lançado em 2017: "Os Cowboys", de Thomas Bidegain.

Difícil imaginar um filme mais comovente e bem realizado quanto este, que trata de um tema atual e e importante: o impacto da ascensão do islamismo na Europa.

Bidegain usa uma história familiar para tratar do tema: numa pequena cidade da França, uma adolescente de 16 anos, Kelly, desaparece. O pai, Alain (François Damiens) sai à sua procura e descobre que ela fugiu com um namorado muçulmano, Ahmed.

Inicia-se então uma longa e dolorosa busca pela menina, que leva Alain e seu filho caçula, Kid, a explorarem o submundo da cooptação de jovens europeus por extremistas islâmicos.

A princípio, o título pode soar estranho, mas há duas explicações para ele.

A primeira é que Alain e sua família são obcecados pelo faroeste e participam de festas típicas de caubóis.

A segunda é que o filme é uma adaptação contemporânea do clássico "Rastros de Ódio" (1956), de John Ford, em que John Wayne vive um veterano da Guerra Civil que passa anos em busca da sobrinha (Natalie Wood), raptada por índios comanches.

"Os Cowboys" é o filme de estreia, como diretor, de Bidegain, um excelente roteirista de três ótimos dramas dirigidos por Jacques Audiard: "O Profeta" (2009), "Ferrugem e Osso" (2012) e "Dheepan: O Refúgio" (2015, Palma de Ouro em Cannes).

Bidegain tem a capacidade notável de inserir dramas pessoais em contextos sociais importantes. Seus filmes tratam de grandes temas, mas sob a ótica de pessoas comuns, vítimas das circunstâncias.

"Os Cowboys" tem uma estrutura narrativa das mais interessantes, com personagens centrais que somem da história inesperadamente e outros que surgem de repente, mas têm grande relevância para a trama. É um filme diferente do que nos acostumamos a ver no cinema comercial, onde tudo é tão explicado e detalhado.

A maneira como Bidegain desvenda o mistério do desaparecimento da menina é brilhante e introduz o espectador a uma Europa bem distante daquela dos cartões postais.

O filme trata, sem didatismo ou arroubos panfletários, da crescente tensão que tem sido causada pelo aumento da imigração muçulmana para a Europa e de como isso afeta a vida de pequenas comunidades.

Diferentemente do filme de John Ford em que se inspirou, "Os Cowboys" não tem vilões ou mocinhos. Há, sim, personagens perdidos em meio a um mundo que não parecem mais compreender.

OS COWBOYS
QUANDO: em cartaz
ELENCO: François Damiens, Finnegan Oldfield
PRODUÇÃO: França, 2015, 14 anos
DIREÇÃO: Thomas Bidegain


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