Folha de S. Paulo


Acionista do Itaú é maior investidor da editora dos ex-Companhia das Letras

Renato Parada/Divulgação
Socios da editora todavia, formada por ex-funcionarios da companhia das letras credito renato parada/divulgacao
Da esq. para a dir.: André Conti, Flávio Moura, Leandro Sarmatz, Alfredo Nugent Setubal, Ana Paula Hisayama e Marcelo Levy, sócios da editora Todavia

A história parece improvável: um ano terrível para editoras e livrarias, 2016, acabou de terminar. Ainda nem deu tempo de ninguém juntar os cacos, e um grupo de editores resolve deixar uma grande casa. E juram que o fizeram em nome da casa própria.

Foi isso que ocorreu em janeiro, quando Flávio Moura e André Conti anunciaram que estavam dando tchau para a Companhia das Letras.

Unidos à agente literária Ana Paula Hisayama, ao editor Leandro Sarmatz e ao ex-diretor comercial Marcelo Levy –todos ex-funcionários da Companhia–, eles anunciaram que fundariam uma nova editora literária.

Mas como, se o mundo estava ruindo? Agora, eis as respostas. A Todavia –é esse o nome– se prepara para estrear nas prateleiras no mês de julho. E o fará com o apoio de três investidores.

O principal deles é o empresário Alfredo Setubal, 58, presidente da holding Itaúsa e filho de Olavo Setúbal (1923-2008), patriarca da família que controla o Grupo Itaú.

Mas também participam Guilherme Affonso Ferreira, 65, presidente do fundo de investimentos Teorema e um dos patronos da Flip, e Luiz Henrique Guerra, 39, do fundo Indie. Todos eles com investimentos pessoais, não ligados a seus fundos.

Junta-se à firma o filho de Setubal, Alfredo Nugent Setubal, 25. Cineasta e escritor, ele quer passar por todas as áreas da Todavia, para entender como o meio editorial funciona.

Ele teve como tutor na literatura Francisco Moura ("Ele sempre soube que eu tinha interesse pelo mercado editorial"), pai de Flávio Moura.

Setubal, o filho, foi o primeiro a ser procurado pelos editores em busca de apoio.

"Entrei meio por causa do meu filho", diz Setubal, o pai. "E porque achei bacana fazer parte de um projeto com impacto social. Vejo espaço para um retorno razoável do investimento, mas não é minha principal motivação."

Ele diz esperar outros investidores para o negócio conforme a Todavia for se consolidando. Estima que a editora deva se pagar entre cinco e sete anos de existência.

"Fizemos um plano de negócios bem conservador, sem prever nenhum livro estourando. Mas isso pode acontecer e essa curva mudar."

A Todavia lança seus primeiros quatro livros em julho (ainda não divulgados) e deve seguir um ritmo de dois livros por mês no primeiro ano. No segundo, quatro. Aos três anos de existência, a ideia é chegar a 60 livros anuais.

Em comparação, a Companhia das Letras lança uma média de 35 títulos por mês.

Diferentemente de outras casas independentes, que buscam canais alternativos de vendas, a Todavia tem livrarias como principal foco. O perfil já havia sido anunciado: ficção, não ficção e quadrinhos.

"É uma editora de amigos. Nos divertimos muito fazendo isso. O livro é um item essencial. Se botarmos livros legais, os leitores vêm", diz André Conti.

A ideia, explicam os sócios da nova casa, também é não ficar preso ao lado "novidadeiro" do meio livreiro internacional. Dessa forma, eles também devem buscar bons livros que nunca tenham saído no Brasil, ainda que não sejam recentes.

Flávio Moura, por sua vez, explica que a ideia da casa própria ficou séria cerca de três meses antes do anúncio da saída da Companhia das Letras.

"É algo natural em todo o mundo. Nos Estados Unidos, é assim que novas editoras surgem. Na publicidade, isso é corriqueiro", afirma.

Para estruturar o departamento de produção gráfica, a Todavia contratou como consultora Aline Valli, da extinta Cosac Naify. E, nesse primeiro momento, Ciça Pinheiro será a consultora de comunicação


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