Folha de S. Paulo


Peça 'Zibaldoni' reúne 'poesia ao pé do ouvido' do italiano Giacomo Leopardi

Lenise Pinheiro/Folhapress
 Sao Paulo, SP, Brasil. Data 04-03-2017. Espetáculo Zibaldoni. Atores Adriana Londoño e Clovys Torres. Teatro Sérgio Cardoso Sala Paschoal Carlos Magno. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
Atores Adriana Londoño e Clovys Torres durante ensaio de 'Zibaldoni' no Teatro Sérgio Cardoso

Numa reunião encenada de textos de Giacomo Leopardi (1798-1837), o diretor Aimar Labaki pretende levar ao espectador uma "poesia ao pé do ouvido" do autor italiano.

"Zibaldoni", peça que estreia nesta terça (7) em São Paulo, coloca a plateia sobre o palco, sentada ao redor (e bem próxima) do espaço cênico em que os atores Adriana Londoño e Clovys Torres fazem um misto de declamação ao público e interpretação dos escritos de Leopardi.

Ainda que não muito divulgado no Brasil, o poeta e ensaísta italiano foi grande referência para nomes como Machado de Assis e Haroldo de Campos. Lá fora, Italo Calvino, Nietzsche e Ezra Pound estão entre seus admiradores.

Leopardi reuniu boa parte de sua obra no seu "Zibaldone di Pensieri", espécie de diário de anotações filosóficas. Versa muito sobre temas como a vida e a morte, critica a velocidade da vida moderna e a defende que o homem deve expressar seus sentimentos como forma de melhor compreender a si próprio.

Em seu "Zibaldoni", Labaki selecionou textos que mostrassem "aspectos diferentes" da obra de Leopardi e que comunicassem "de forma direta as ideias do italiano para o público de hoje". Além de poemas, o diretor reuniu escritos em prosa, cartas e trechos de diários do italiano.

O encenador ainda se encarregou das traduções dos textos, que conheceu há 15 anos. Procurou uma versão menos lírica e mais teatral. "Quis torná-la compreensível, porque a poesia dele é uma poesia do pensamento."

Também brinca com a versatilidade desses escritos. Logo de início, os atores declamam três versões do poema "O Infinito", traduzidas de formas bem distintas por Haroldo de Campos, Vinicius de Moraes e Mário Faustino.

Os versos desse poema –"naufragar é doce nesse mar"– também ecoam em "É Doce Morrer no Mar", música de Dorival Caymmi, cantada em cena por Torres.

As vozes dos atores, por sinal, são a única origem musical da peça. Não há uma trilha propriamente dita, gravações ou instrumentos. Além de um cântico ou outro, Labaki encontra a musicalidade na sonoridade dos versos.

Por vezes, Londoño fala o texto em italiano. Ali o diretor busca não a compreensão das palavras, mas o seu som.

O cenário é composto de uma pilha de livros, derrubada no início da sessão –os atores ficam em permanente desequilíbrio movendo-se sobre os tomos. A luz não é direta e integra as áreas da plateia e do espaço cênico.

*

ZIBALDONI
QUANDO ter. a qui., às 20h; até 30/3
ONDE Teatro Sérgio Cardoso, r. Rui Barbosa, 153, tel. (11) 3288-0136
QUANTO R$ 60
CLASSIFICAÇÃO 10 anos


Endereço da página: