Folha de S. Paulo


Semana de Paris tem acusações de maus-tratos e tensões com imigração

Bertrand Guay/AFP
Models present creations by Lanvin during the women's Fall-Winter 2017-2018 ready-to-wear collection fashion show in Paris on March 1, 2017. / AFP PHOTO / bertrand GUAY
Desfile da Lanvin durante a semana de Paris

Além dos questionamentos das passarelas sobre a crise migratória e os efeitos da onda de conservadorismo no mundo, esta semana de Paris foi marcada por fatos que escancararam os frutos desse momento de incerteza política e o lado desumano enraizado no sistema da moda.

Na segunda (27), um dia antes do início da temporada parisiense, o agente de modelos James Scully acusou, via Instagram, os colegas Maida Gregori Boina e Rami Fernandes de maltratar modelos durante uma seleção para o desfile da Balenciaga.

Segundo Scully, várias modelos reportaram que foram trancadas por Boina por mais de três horas numa sala, sem luz e sem comida, à espera da seleção. O mesmo diretor de casting, profissional que seleciona modelos para desfiles e peças publicitárias, também afirmou que a grife Lanvin deu ordens para agentes não contratarem modelos negras para seu desfile.

As acusações viraram o grande tema dos bastidores e, sob o escrutínio de toda a indústria internacional, os envolvidos foram obrigados a emitir comunicados oficiais.

Boina, uma das agentes acusadas por Scully e responsável pelo casting de vários desfiles, disse ao portal de notícias WWD que as alegações do colega são "caluniosas" e "imprecisas". Várias modelos, no entanto, confirmaram a versão de Scully, que, por sua vez, foi acusado por Boina de "deturpar os fatos para ganho profissional".

Após a polêmica, a grife Balenciaga escreveu que iria revisar seu processo seletivo e que a falta de luz na sala das modelos foi motivada por uma queda de energia. A Lanvin negou que tenha dado a orientação de excluir negras do casting, embora só duas afrodescendentes tenham desfilado na passarela da marca, na quarta-feira (1º).

Outro problema que a moda europeia deverá enfrentar a partir de agora é o endurecimento das políticas de imigração dos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump e da Inglaterra pós-"brexit". Para uma indústria que depende do trânsito de roupas e estilistas importados da Ásia, dos Estados Unidos e da Europa, entraves nesses intercâmbios podem virar dor de cabeça.

Como aconteceu com a russa Maria Kazakova, indicada neste ano ao LVMH Prize, prêmio mais importante da moda para jovens talentos. Baseada em Nova York, ela não conseguiu viajar a Paris para receber o prêmio porque a renovação de seu visto não havia sido autorizada a tempo e, se saísse do país, não poderia retornar aos EUA.

Mais sorte teve a turca Dilara Findikoglu, também indicada ao prêmio e que quase não saiu de Londres, onde mora, por causa de renovação no visto. A embaixada da Turquia no Reino Unido e o grupo LVMH, dono das grifes Dior e Louis Vuitton, tiveram de pedir para que as autoridades britânicas liberassem o passaporte da designer, retido havia semanas.


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