Folha de S. Paulo


Vera Holtz fala sobre terrível vilã que interpreta em 'A Lei do Amor'

Era um garotinho serelepe de mais ou menos dez anos. Acompanhava a mãe na fila do caixa de uma padaria em Higienópolis, em São Paulo. Passava das 21h de sábado, e as TVs exibiam as últimas notícias do "Jornal Nacional".

O menino tentava inutilmente chamar a atenção da mãe. De olho na TV, ficava cada vez mais agitado até que seus murmúrios deram lugar a um ultimato, que pronunciou alto e bom som: "Mãe, anda logo. Quero ver a má!".

"Má" de maldosa, malvada, maléfica, malévola, maligna e outros tantos adjetivos que orbitam o universo protagonizado por Magnólia Costa Leitão –ou simplesmente Mág, a personagem de Vera Holtz em "A Lei do Amor".

Em se tratando da atuação dessa veterana, "má" também pode ser de "maravilhosa". Vera não permite que Magnólia se torne uma caricatura, ainda que a personagem colecione uma lista invejável de maldades.

Sua Mág provoca ódio, mas também fascínio –afinal, ser sensual aos 64 não é para qualquer uma. Esse é um dos traços dessa personagem, que já recebeu em sua alcova homens de várias idades, todos vividos por atores cobiçados por gerações. "Vamos falar sem julgamento: Magnólia é amada, desejada, sensual. É uma mulher madura pegadora", nas palavras da atriz.

Fausto Leitão era vivido pelo veterano Tarcísio Meira. Ciro Noronha é o personagem do bonitão Thiago Lacerda. Para encarnar a virilidade de Tião Bezerra, só mesmo José Mayer. Precisa mais? "As mulheres me encontram na rua e comentam. Elas se sentem privilegiadas", conta Vera.

A construção da personagem vai além do talento de Vera, do texto e da direção: as roupas impecáveis e a luz especial garantem à vilã a aura de empoderamento. É com entusiasmo que Vera vive sua primeira experiência de interpretar uma mulher má: "Magnólia só me preenche".

Faltando menos de 30 capítulos para o fim da trama, a malvada já começa a enfrentar as consequências de seus atos. Pode o enredo se encaminhar para a esperada catarse no final, com a punição exemplar do mal e a vitória do bem, mas essa é apenas uma possibilidade.

Se depender de Vera, o desfecho pode tomar outro rumo: "Muitos torcem para que ela seja julgada pelas suas ações, mas outros não. Quero que ela se dê bem".

Maria Adelaide Amaral, uma das autoras da novela, acredita que a personagem ganhou na interpretação de Vera uma gama tão rica de emoções que o público acaba se compadecendo dela.

Em geral, o que se reserva às megeras é o fim trágico: foi assim com Odete Roitman (Beatriz Segall), assassinada em "Vale Tudo", com Nazaré Tedesco (Renata Sorrah), morta ou desaparecida (?) em "Senhora do Destino", e com Carminha (Adriana Estevez), que terminou seus dias no lixão de "Avenida Brasil".

Com atuações muito elogiadas, as três atrizes conquistaram seu lugar na galeria de vilãs, um espaço nada desprezível na dramaturgia.

Para Vera Holtz, é a memória das pessoas que garante ao ator um nicho nesse panteão: "É o tempo em que ela [Magnólia] ficará no imaginário do público que vai garantir (ou não) um assento reservado nesse espaço". Depois de uma pausa, a atriz sintetiza: "Afinal, você não recebe o troféu no começo da disputa".

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Vera Holtz

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NA TV

A Lei do Amor

Quando: seg. a sáb., depois do "Jornal Nacional", na faixa das 21h


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