Folha de S. Paulo


Vocalista do Keane lança disco solo e fala sobre vício

William Volcov - 3.abr.2013/Brazil Photo Press
O vocalista Tom Chaplin durante show da banda inglesa Keane em São Paulo, em 2013
O vocalista Tom Chaplin durante show da banda inglesa Keane em São Paulo, em 2013

Na noite anterior do seu show solo em Los Angeles, Tom Chaplin, vocalista do grupo britânico Keane, foi com sua banda para uma noite na Sunset Strip, área da cidade apinhada por casas noturnas e bares. Acompanhando seus colegas de banda, Chaplin entornou quatro doses de... Coca-cola.

"Fiquei a noite toda acordado por causa disso. Espero que não esteja refletindo no palco", brinca o inglês para discordância do público, que tomou boa parte do El Rey Theatre, em 02/02.

Essa é a rotina de Chaplin desde que decidiu retornar ao showbiz para promover seu primeiro disco solo, "The Wave", em uma turnê pelos EUA: o confronto contra tentações alcoólicas e as apresentações confessionais que resumem o álbum lançando no Brasil mês passado.

Tudo isso porque, desde 2006, o músico enfrentava um problema com álcool e cocaína que o levou à uma clinica de reabilitação duas vezes. A última sendo há três anos, quando o Keane decidiu dar um tempo, e Chaplin começou a pensar em partir para a carreira solo, longe das letras e melodias compostas pelo seu colega de banda, Tim Rice-Oxley.

"Na maior parte do meu tempo com a banda, eu me sentia isolado. Mergulhado nos próprios problemas", diz o cantor à Folha. "Tive alguns momentos terríveis na estrada com o Keane, mas sempre me comportei de maneira profissional. Meu problema era quando voltava para casa. Tudo implodia."

Prestes a completar 38 anos, ele é um sujeito diferente daquele moleque de bochechas rosadas à frente de um dos grupos ingleses mais bem-sucedidos dos anos 2000. Você nota o reflexo da passagem no tempo não apenas nos cabelos grisalhos, mas nas feições maduras e no papo sem restrições. "Precisei me tornar uma pessoa diferente", resume.

Chaplin é um homem buscando aprovação. Agora, da mulher, Natalie, e da filha de dois anos. Em diversos momentos do show, ele confessa que busca a confiança da família, que o encontrou quase morto numa noite.

"Minha mulher falou que diria que me amava, pois não sabia se poderia falar isso novamente", diz ele. O episódio virou a canção "Worthless Words": "Três dias depois, estou lutando para respirar/A morte me vê perto do limite/Um sussurro suave diz: 'Cuidado onde pisa'/ Ouço por um momento/Me desculpe".

"The Wave" serve como uma análise para Chaplin, que entrega letras mais fascinantes que em qualquer disco do Keane. Todas sobre sua luta contra o vício.

"Eu estava fazendo terapia fazia uns cinco anos, então o aspecto confessional estava em mim", diz ele. "Foi estranho dividir isso com um estranho no começo, mas aprendi muito sobre ser honesto."

Ele conta que não se vê como uma pessoa "corajosa" ao falar abertamente sobre os problemas. "É estranho. Não me sinto assim, mas se isso está sendo transmitido pelas músicas, ótimo", conta ele, que destaca "Quicksand" e "See It So Clear", como letras sobre superação. "O disco é otimista, mesmo que comece em um lugar triste."

Chaplin nunca imaginou que iria fazer um disco tão sincero. Mesmo quando deu um tempo no Keane, em 2012.

"O tema mudou completamente. As músicas que escrevi quando me afastei eram diferentes das que terminaram gravadas. 'The Wave' tem um tema bastante claro. Eu estava saindo e entrando nas drogas naquela época. Eram boas músicas, mas havia menos coesão", diz ele. "Havia momentos bons, mas não sou de olhar para trás."

Tanto que uma nova reunião do Keane parece improvável. Primeiramente, porque o disco soa muito com o som soft-pop da banda.

"Não quis sair muito da zona de conforto, apesar de ter corais gospel e jogos de cordas que não usamos no Keane". Em segundo lugar, porque Tom Chaplin adquiriu confiança como compositor. "Se a banda voltar, precisaria ter uma dinâmica diferente. E não faço ideia se isso vai acontecer. Teríamos de conversar. E isso é algo que o Keane nunca foi bom em fazer."


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