Folha de S. Paulo


Crítica

Ao ficcionalizar vidas de judeus 'loucos', autor chama à tolerância

MESHUGÁ (bom)
AUTOR Jacques Fux
EDITORA José Olympio
QUANTO: R$ 32,90 (196 págs.)

Em "Meshugá - Um Romance sobre a Loucura", Jacques Fux alterna pequenos textos quase ensaísticos, de uma ou duas páginas, com perfis ficcionalizados de oito personagens reais que não possuem absolutamente nada em comum exceto o fato de serem judias e de serem associadas, pelas mais diversas razões, a variados tipos e formas de insanidade.

Ao colocar, em sequência, as histórias de Woody Allen, Bobby Fisher, Ron Jeremy, Sarah Kofman, Sabbatai Zevi, Otto Weininger, Grisha Perelman, Daniel Burros e suas supostas loucuras, misturadas a fortes doses de preconceito, sofrimento, ironia e agressividade, o autor cria um efeito evidentemente perturbador. Nesse sentido, seu projeto é forte e bem-sucedido.

Eric Gaillard/Reuters
Director Woody Allen poses during a photocall for the film
O cineasta Woody Allen, um dos perfilados em 'Meshugá', durante festival de Cannes

O último capítulo do volume torna o jogo ainda mais interessante, ao inserir o próprio autor como personagem que sofre as consequências do livro que escreveu: "Ele enlouqueceu junto com seus personagens". Ninguém passa incólume por tal acúmulo de memória e distorção.

Na leitura isolada dos diferentes perfis, contudo, o resultado é desigual: em alguns casos (Ron Jeremy ou Sarah Kofman) tudo funciona muito bem, em outros (Woody Allen, por exemplo) nem tanto.

Outro pequeno incômodo que vale a pena apontar é que certas construções aparecem demasiadas vezes no texto e terminam por irritar o leitor –e o leitor contemporâneo, como todo aquele que resiste, já é sempre um ser muito irritado.

Meshugá: Um Romance Sobre A Loucura
Jacques Fux
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Exemplo dessas construções são as orações muito curtas que repetem três vezes um mesmo elemento: "A culpa é da maldita guerra. Da maldita Shoá. Da maldita humanidade" ou "Ela se enxerga como uma francesa. Como uma católica. Como alguém que renegou...".

Nada disso, contudo, altera o fato de que, nesses tempos de tanta intolerância, um livro como "Meshugá" é mais do que necessário.


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