Se neste Carnaval você pular ao som de determinadas músicas de Anitta, Ludmilla, Biel ou Pabllo Vittar, estará fazendo um palhaço sorrir. Pablo Bispo, um dos compositores de hits como "Essa Mina É Louca" e "Ninguém Segura Ela", usa nariz vermelho e trabalha em hospitais quando não está escrevendo refrões propositalmente pegajosos.
Até quatro anos atrás, esse carioca de Bangu era gerente de banco. Mas, em 2013, ouviu o chamado e largou o emprego para fazer papel de palhaço em tempo integral. Por um ano e pouco, dedicou-se de corpo (tem um nariz vermelho tatuado na parte interna do bíceps direito) e alma ("Quer que eu suba na árvore?", pergunta para o fotógrafo Marcus Leoni) aos Doutores da Alegria.
Mudou de trupe, adotou o codinome Palhaço Borogodó e escreveu um livro sobre o tema, que é entregue na casa do freguês autografado, não por ele, mas por uma criança hospitalizada.
A vida de palhaço ia bem, mas teve uma reviravolta inesperada, quando conheceu pela internet Jhama, cantor, compositor e amigo de amigos. "A gente sentou para escrever música e já saiu uma na primeira sentada." "Essa Mina É Louca", hit de Anitta.
Botou então no papel ideias de gestão de negócio que herdou do banco. Escreve músicas como um investimento de risco conjunto: se for sucesso, ele vai colher os dividendos dos direitos autorais. Se não for, é uma relação em que ambos os lados saem perdendo. Tirou a sorte grande com "Essa Mina É Louca". O primeiro depósito de direitos autorais da música começou a cair na conta meses atrás.
Até então, a situação era tranquila, ainda que não favorável o suficiente. Quando compôs a música da Paraolimpíada com o parceiro Jhama e Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, isso ficou claro. "Quando a gente terminou, eles foram comemorar e eu não, porque não tinha grana pra ir no restaurante que foram."
Hoje consegue viver só da música, o que considera "inacreditável, fico muito feliz mesmo". "Eu cobro um valor quando o artista não é tão grande. Porque esse tempo que eu vou levar escrevendo para ele eu poderia estar pensando numa música para a Ivete, por exemplo." A cantora baiana ainda não pescou nenhuma das suas composições –"A gente mandou uma dias depois de ela gravar o DVD novo, droga. Mas foi para a Tiê, então tá tudo bem".
Por mais que a mesma música possa servir a vários clientes, ele prefere produzir num esquema sob medida. "Não tem essa coisa de música pronta. Vou estudar o público-alvo".
Foi o que teve de fazer para escrever três músicas para Pabllo Vittar, drag queen cantante e musa da juventude. "É um universo que eu não conhecia. Comecei a ouvir as gírias, umas coisas de 'dar check-in no chão' que eu não conhecia." Para não perder contato com as gírias da juventude, chegou até a ser professor voluntário.
Autodidata no violão e no teclado, ele não sabe tocar nenhuma música de sua autoria. "Eu componho cantando e depois alguém 'tira' a música pra mim e faz uma partitura." Ele, que diz se identificar com o estilo de Maria Gadú, tem seus orgulhos intelectuais em pops com refrões que rimam louca com boca e roupa. Cita Drummond na letra de "Cravo e Canela", também cantada por Anitta.
"Mas minhas poesias são mais simples", ri. Em março sai sua próxima: Wesley Safadão cantará uma música do palhaço, que guarda a letra a sete chaves. "Logo mais você vai ouvir. Espero que muito."
NO PÉ DAS LETRAS
Alguns dos refrões que Bispo ajudou a criar:
"Essa Mina É Louca", para Anitta: "Essa mina é louca/ Quando eu tô bolado, ela quer beijo na boca/ Se eu tô com frio, ela tira a minha roupa/ Louca, essa mina é louca"
"Eu Sou do Mundo Um Vencedor", para Ronaldinho Gaúcho: "Eu sou do mundo/ Sou guerreiro Voador/ Vencedor das ondas"
"Ninguém Segura Ela", para MCBiel: "Ela é linda, lança moda/ Ela é zica, ela é fo.../ Onde passa incomoda/ E quem perdeu agora chora"
"KO", de Pabllo Vittar: "Seu amor, me pegou/ Cê bateu tão forte com o teu amor/ Nocauteou, me tonteou/ Veio à tona, fui à lona, foi K.O"