Folha de S. Paulo


Peça 'Eigengrau - No Escuro' debate o cinza nebuloso das ideologias

Lenise Pinheiro/Folhapress
Sao Paulo, SP, Brasil. Data 25-05-2016. Espetaculo Eigengrau, no escuro. Atores Andrea Dupre (esq) e Daniel Tavares. Teatro Cultura Inglesa. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
Atores Andrea Dupré e Daniel Tavares na peça 'Eigengrau - No Escuro'

Expoente da cena contemporânea do teatro londrino, a dramaturga Penelope Skinner estava a questionar sua veia feminista quando escreveu "Eigengrau" (2010).

Encontrou na palavra alemã que dá título ao espetáculo o embate –e a delimitação por vezes pouco clara entre diferentes ideologias– que queria expressar. "Eigengrau" é o cinza que vemos na ausência de luz. Não o breu completo, mas um escuro com contornos de claridade.

"É uma peça polêmica, mexe com a gente. Se você a assiste outras vezes, sai com opiniões e perspectivas diferentes de um assunto", afirma Nelson Baskerville, diretor da primeira encenação brasileira do texto, que teve sessões no Festival Cultura Inglesa no ano passado e estreia temporada neste sábado (4).

É nesse cinza nebuloso que se encontram quatro personagens na faixa dos 30 anos: Rosa é uma mulher problemática e apaixonada por Marcos; este, um sedutor, faz de tudo para conquistar Carol, uma ativista feminista; já Tomás, de luto, vive de favor na casa do amigo Marcos.

Mas essas figuras cujas definições aparentam ser claras logo se veem invertendo os papéis. "A peça coloca uma feminista em situação de machismo ou um personagem misógino em situação fragilizada", continua o encenador.

"Estamos entendendo cada vez mais as questões de gênero, o machismo que é tão arraigado na gente e nos obriga a ver uma coisa em nós que nem sabíamos que estava ali. Isso requer esforço e aprendizagem contínuos, entender que o escuro tem algo a mais, ele não é o breu completo."

Enquanto enfrenta seus dilemas ideológicos e suas crises –que Skinner recheia de humor negro–, o quarteto vaga por um ambiente urbano opressivo e solitário.

"É uma sensação que a gente tem na cidade, estamos o tempo todo tentando encontrar o nosso espaço, ser bem-sucedidos", diz a atriz Renata Calmon, idealizadora da montagem. "É muito duro, a cidade é excludente."

Não é uma metrópole determinada. Foram tiradas referências londrinas, sem fazer alusão a São Paulo. Ironicamente, conta Baskerville, "criamos uma cidade toda pichada. Justo agora que vem um [João] Doria pintando tudo de cinza" –em campanha contra a pichação, o prefeito de São Paulo pintou muros, cobrindo inclusive grafites.

DELICATESSEN

"Eigengrau" marca o primeiro trabalho da Cia Delicatessen Teatral, formada por quatro atores: Calmon, Daniel Tavares, Tiago Real e Andrea Dupré. Como foi o caso com Baskerville, a ideia é ter sempre um diretor convidado, algo como faz o Grupo Galpão, explica Calmon.

Também há interesse na montagem de textos inéditos. Entre os próximos espetáculos, o grupo deve encenar um texto infantil que está sendo escrito pelo dramaturgo mineiro Ricardo Inhan.

EIGENGRAU - NO ESCURO
QUANDO sáb., às 21h; dom., às 20h; até 5/3
ONDE Funarte São Paulo, al. Nothmann, 1.058, tel. (11) 3662-5177
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 16 anos


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