Folha de S. Paulo


Após turbilhão pessoal, Juliana Kehl reconstrói carreira com álbum pop

Foi com uma leva de novas cantoras que Juliana Kehl emergiu em 2010. Bela e afinada, lançou o álbum de estreia sob sua alcunha e despontou, assim como Tiê, Tulipa Ruiz e Karina Buhr. Dois anos depois, naufragou, como nenhuma outra entre elas.

Com uma gravidez delicada de gêmeas, Kehl, 39, precisou ficar em repouso e interromper os shows. Em seguida, se separou do marido.

"Uma das conclusões a que eu cheguei é a de que a maternidade é incompatível com tudo que não seja a própria maternidade", afirma.

Eduardo Anizelli/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 21-12-2016, 14h00: Retrato da cantora Juliana Kehl, que lanca seu segundo disco,
A cantora Juliana Kehl, que lança álbum após sete anos

Sem encontrar uma equação que combinasse ser mãe e a vida nos palcos, pensou que a carreira de cantora tivesse acabado. "Aliás, tive certeza disso", diz. "Pensava: 'Nossa, como faz a Tiê? Como faz a Anelis [Assumpção]? Se elas conseguem, eu também tenho que conseguir'."

Quando se recompôs, os empecilhos se tornaram menos imobilizantes e passaram, então, a servir de material para reconstruir o projeto que havia abandonado.

"Esses acontecimentos todos modificaram o rumo da minha vida e a maneira de encarar o ser mulher", afirma.

É justamente essa imersão na busca pelo feminino –já muito presente desde sua estreia– que guia o segundo álbum da cantora, "Lua Full", que ela apresenta pela primeira vez em show nesta sexta (20), no Sesc Pompeia, com a participação de Thiago Pethit e Zé Pi, que também a acompanham no disco.

O single "Ladainha", antecipado no início do mês, já mostrava esse teor e confrontava uma das "descobertas" que vieram à tona durante o turbilhão pessoal.

"Percebi que sempre fui muito condescendente com o machismo ao longo da minha vida e, de repente, isso se tornou intolerável, porque, além de ser mulher, eu tinha gerado duas mulheres. Eu tinha que pensar a minha maneira de me posicionar no mundo".

Para a volta, produzida por Gustavo Ruiz e Luiz Chagas (filho e pai), Kehl trocou a proximidade com ritmos regionais por uma roupagem mais pop, a fim de se "comunicar mais diretamente".

Deixou de se apoiar tanto nos artifícios da pós-produção, como no primeiro álbum, e optou por um som que evidenciasse a banda e facilitasse as apresentações ao vivo.

'Ladainha'

O título veio da faixa composta com a amiga Serena Assumpção, morta em 2016. "A notícia me pegou completamente de surpresa, foi muito chocante. Cheguei a achar que não conseguiria lançar o disco, mas depois pensei em fazê-lo como homenagem."

O repertório também tira da gaveta a primeira composição de Juliana, "Sagitário", feita sobre poema da psicanalista Maria Rita Kehl, sua irmã.

Novamente em movimento, Kehl já planeja seu próximo projeto: um álbum em que artistas como Marcelo Jeneci e o próprio Thiago Pethit, com quem divide os vocais da faixa "Red Number", em inglês, gravem canções em outras línguas, em busca de identidades escondidas.

*

JULIANA KEHL
QUANDO sexta (20), às 21h
ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
QUANTO de R$ 6 a R$ 20, em www.sescsp.org.br


Endereço da página: