Folha de S. Paulo


Damien Chazelle resgata musicais com 'La La Land' e acumula prêmios

Todas as vezes em que o cineasta Damien Chazelle assiste a "Cidadão Kane" (1941), ele não se controla. "Murmuro um 'filho de uma puta', independente de onde estiver", confessa o diretor de "La La Land: Cantando Estações à Folha.

Chazelle não odeia Orson Welles. Ele o usa como combustível para tentar se aproximar o máximo possível do ídolo, que dirigiu, escreveu, produziu e atuou no considerado "melhor filme de todos os tempos" quando ainda tinha 26 anos. "Nunca serei como Welles. Mas esse tipo de frustração e raiva, que leva muitas pessoas à depressão, me força a tentar fazer o melhor. É um sentimento poderoso."

Tão poderoso que Chazelle concorreu ao Oscar de 2015 por "Whiplash" com 30 anos e, domingo passado, recebeu dois Globos de Ouro por "La La Land" (direção e roteiro).

Divulgação
Ryan Gosling e Emma Stone em cena de 'La La Land
Ryan Gosling e Emma Stone em cena de 'La La Land'

"Muitos começam jovens, mas tive sorte por uma pessoa ter acreditado e investido em mim", lembra o diretor, que teve a ajuda de Jason Reitman ("Juno") na produção de "Whiplash".

Mas nem o nome de Reitman foi suficiente para tirar "La La Land" do papel quando foi escrito, há seis anos. Chazelle, que tinha se formado em artes visuais pela Universidade de Harvard, se mudou para Los Angeles e bateu de porta em porta nos estúdios de Hollywood com a intenção de filmar um musical à moda antiga.

"Ninguém queria nem chegar perto do projeto", recorda-se ele. "Primeiramente, era um musical, o tipo de filme que Hollywood não gosta mais de produzir. Em segundo lugar, quem diabos era eu?"

Chazelle transformou sua frustração em arte. "Joguei toda minha raiva em 'Whiplash', como vocês podem notar ao ver o filme", brinca. Depois do longa sobre um baterista de jazz em busca da perfeição ser indicado a cinco Oscar, o horizonte se abriu para "La La Land".

O diretor já estava vendendo o filme durante entrevistas no fim de 2015. Mas os astros escalados eram outros: Emma Watson ("Harry Potter") e Milles Teller. Por dificuldades de agenda, a dupla mudou e Emma Stone e Ryan Gosling, que já trabalharam juntos em "Amor a Toda Prova" (2011), subiram a bordo do filme.

DANÇA NA RAMPA

Ele, no papel de um pianista que aspira a grandeza, mas precisa dividir seu tempo entre bandas covers de pop dos anos 1980 (uma das cenas mais engraçadas) e o trabalho em um restaurante.

Ela, uma atriz iniciante que não consegue nada além de comerciais constrangedores. "Ryan e Emma combinam o que eu precisava para o filme: carisma à moda antiga e poder da fama. Eles poderiam estar em qualquer musical de 50 anos atrás, mas também são facilmente identificáveis como pessoas modernas", explica Chazelle.

Os dois iniciam um romance regado a jazz e cinema, mas expresso em números musicais que transformam a hostil Los Angeles em um lugar repleto de magia. Já na primeira sequência, os protagonistas entram em uma coreografia inspirada passada na rampa de acesso de uma das principais rodovias da cidade.

"Foi divertido, mas tecnicamente muito difícil", conta o diretor, que não usou nenhum efeito especial e decidiu não quebrar os números com diversas câmeras. "Tudo foi ensaiado à exaustão e a câmera faz parte da coreografia musical. Queria que 'La La Land' trouxesse o espírito dos filmes de Ginger Rogers e Fred Astaire." Pelo número de prêmios e indicações conquistados, parece ter conseguido.

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PRÊMIOS ACUMULADOS POR "LA LA LAND"

  • 7 Globos de Ouro, inclusive melhor comédia ou musical e diretor
  • 8 prêmios no Critics' Choice Awards, inclusive melhor filme, diretor e roteiro
  • Melhor atriz para Emma Stone no Festival de Veneza
  • Melhor filme pelo público no Festival de Toronto, pelos Círculo de Críticos de Cinema de NY e pela Sociedade de Críticos de Boston
  • 11 indicações ao BAFTA, principal prêmio de cinema da Inglaterra
  • Indicado a melhor filme pelo Sindicato dos Produtores dos EUA
  • Indicado a melhor ator e atriz pelo Sindicato dos Atores dos EUA
  • Indicado a melhor roteiro pelo Sindicato dos Roteiristas dos EUA

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