Folha de S. Paulo


Rock trintão de Supla ainda é um grito de rebeldia

Mateus Mondini/Divulgação
Cantor Supla com maquiagem que usa no clipe da música
Cantor Supla com maquiagem que usa no clipe da música "Extremistas Fundamentalistas"

Para marcar seus 30 anos de carreira, em 2015, Supla começou a escrever sua autobiografia, lançada no ano passado. Mas, na música, fugiu de qualquer saudosismo e gravou um álbum de inéditas. Apesar de já mostrar as novas canções há algum tempo nos shows, o lançamento "oficial" será no próximo dia 21, na Audio, em São Paulo.

Mesmo apontando para o futuro, "Diga o que Você Pensa" é um disco que traz a bagagem sonora de Supla, desde a estreia fonográfica com o grupo Tokyo, com o qual gravou dois álbuns. Ele também lançou um disco com a Psycho 69 e três com o Brothers of Brazil (seu projeto com o irmão, João Suplicy). O álbum recém-lançado é seu oitavo solo.

"Eu e o João decidimos dar um tempo do Brothers em 2016. Cada um foi fazer suas coisas. Quando acharmos que é hora, a gente volta", conta Supla à Folha, dando entrevista em restaurante tradicional da região central paulistana, onde ele mora.

Depois de sete anos atuando na dupla, acostumado a compor ao lado do irmão guitarrista, Supla estava sozinho para criar o novo repertório.

Então ele resolveu manter seu foco nas letras e nas melodias, só voz e violão. "Se a música estiver funcionando só com o violão, tiver uma boa melodia, vou levar ao estúdio. E foi o que eu fiz."

Seu escudeiro no estúdio foi o produtor, multi-instrumentista e velho amigo Kuaker, que fazia as demos do Brothers. "Aos poucos fui colocando a instrumentação que eu achava que tinha a ver com o que estava cantando em cada música. Essa precisa de violino, essa outra de alguns beats, e por aí foi."

Assim, o disco vai de punk quase metal a um som mais praieiro, um tanto reggae. "Tem arranjos em que toco bateria e coloco bateria eletrônica em cima. O álbum é muito misturado. Eu dizia para o Kuaker: quanto mais esquisito, melhor. Não estou aqui para seguir regras."

Os dois tocaram todos os instrumentos, exceto os teclados em duas faixas de Camila Lordy e a guitarra de Edu Ardanuy em "Amigo". "Eu picotei tanto o que o Edu gravou que ele nem se reconhece na faixa", diverte-se Supla.

E a diversão segue norteando o trabalho dele. Uma das primeiras canções foi "Parça da Erva", escrita com Tatiana Prudêncio Torrez, amiga e parceira em dez canções do disco. "Aí ela soltou a frase 'dichava as ideias', que virou verso nessa música. Se você está fazendo uma canção em parceria e tem um ataque de riso, como eu tive quando ouvi a frase, isso vai funcionar com alguém, de alguma forma."

Supla estava nos Estados Unidos e imediatamente aproveitou para rodar um clipe para essa música em Venice Beach, na Califórnia. "Parça da Erva" foi o primeiro single a sair, antes mesmo de o álbum estar finalizado. Já são quatro os clipes do álbum, entre eles a pop "Amor Entre Dois Diferentes", celebração da diversidade que ele gravou em dueto com Isa Salles, vencedora de um concurso da rádio 89 FM.

Essas duas são exceções na temática do álbum. No conjunto, as letras são declarações diretas contra a situação política e econômica. "É isso tudo que está acontecendo de errado no Brasil. O Cabral no Rio, a Lava Jato, as propinas, essa grana absurda gasta em campanha, isso deveria ser proibido. Todo mundo deveria ter seu tempinho na TV e quem quiser e puder que faça também na internet."

Cuidando ele mesmo do lado business da carreira, Supla entende que precisa da internet, mas canta uma letra como "Fanáticos Virtuais", outra faixa do disco.

"Eu falo de quem está sempre conectado, mas não é uma crítica. É uma ferramenta fantástica, seja usada para a direita ou para a esquerda. O que me deixa triste é que as pessoas não são felizes 24 horas por dia, como querem afirmar na rede o tempo todo. A vida não é o Instagram."

Mas Supla está feliz por uma boa notícia. A versão em inglês de "Anarquia Lifestyle", que está no álbum, foi incluída na trilha sonora documentário "Sad Vacation". O filme do cineasta Danny Garcia mostra os últimos dias de Sid Vicious (1957-1979), lenda punk e baixista dos Sex Pistols, que morreu de overdose de heroína.

"Eu ainda não vi a cena. A música entra quando Sid sai da prisão e vai reencontrar a mãe. É um momento importante no filme", diz Supla, que fez a letra com Victoria Petrusky Wells, "uma baixista punk de Nova York".

Falar em anarquia rendeu a ele algumas críticas de punks na internet. "Eu não sou anarquista. Não sou ingênuo de achar que posso ter uma vida totalmente anárquica. Teria de morar em outro lugar, aqui no meu prédio eu tenho que pagar as contas. Vivo urbanamente."

Para ele, falar de anarquia pode ter ligação com os protestos no Brasil. "Falo do que eu vi e vivi. Muitos enfrentamentos foram aqui, na porta do meu prédio. Eu ajudei muita gente, trouxe para dentro caras que tinham se machucado na rua, tinham tomado borrachada."

Ele fala de "Anarquia Lifestyle", de "Extremistas Fundamentalistas" (que será o próximo clipe) e de todo o álbum como um grito de liberdade. "É contra tudo que está ai. Os políticos têm de largar o osso. Todos têm o direito de se defender, mas, se você tem acusações no nível que esses caras têm, deixe seu cargo e se defenda na Justiça."

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ARTISTA Supla

GRAVADORA independente

QUANTO R$ 25 (CD)

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SUPLA

QUANDO sábado (21), às 21h

ONDE Audio SP, av. Francisco Matarazzo, 694, tel. (11) 2027-0777

QUANTO R$ 60 (à venda no site www.audiosp.com.br)


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