Como a vizinha Hong Kong, Macau, que promoveu em dezembro a primeira edição de seu Festival Internacional de Cinema, foi das últimas localidades a deixarem a condição de colônia no mundo.
Ocupada por Portugal na era das grandes navegações, em 1557, cresceu economicamente como um importante entreposto comercial.
Alvo de várias disputas, inclusive com o Japão,apenas em 1999, graças a um acordo negociado por décadas, tornou-se uma Região Administrativa Especial da República Popular da China.
A administração colonial se retirou, e a chinesa assumiu com o compromisso de manter, por 50 anos, as leis e o sistema vigente (capitalista). Até 2049, o português ainda será uma das línguas oficiais de Macau, ao lado do mandarim.
Todas as sinalizações e placas da cidade são bilíngues, mas o fato é que a flor do Lácio, por lá, é uma língua em extinção –o mandarim também é raro, sendo o cantonês muito mais comum.
Foi ainda sob a administração portuguesa, em 1969, que o primeiro cassino de Macau foi inaugurado, o Cassino Lisboa. Na época, os empreendedores locais detinham o monopólio dos negócios.
Foi a administração chinesa que liberou a entrada do capital estrangeiro, no começo dos anos 2000. O Sand's, primeiro cassino americano de Macau, foi aberto em 2004 e deu início a uma verdadeira explosão que transformou totalmente a paisagem e a economia locais.
Em alguns anos Macau se tornou uma espécie de Vegas do Extremo Oriente. Hoje são 40 hotéis-cassinos de arquitetura extravagante, com altas taxas de ocupação.
Para se ter uma ideia, o maior cassino do mundo não está em Vegas, mas em Macau –é o labiríntico Venetian, que simula a arquitetura da cidade italiana.
A economia dos jogos de azar transformou Macau. Hoje o turismo e o jogo representam cerca de 25% do PIB local (US$ 51,8 bilhões em 2013, nada mau para uma localidade com 650 mil habitantes). A taxa de desemprego, que era enorme, caiu para 2%.
A demanda por mão de obra estimulou um grande fluxo de imigrantes, principalmente das Filipinas e da Indonésia, que foram legalizados e absorvidos.
Depois de uma violenta repressão às gangues surgidas no processo de crescimento dos cassinos, os índices de violência hoje são mínimos.
A cidade também sofreu mudanças culturais com o tempo. "Antes as pessoas rezavam por saúde. Hoje rezam por dinheiro. A prioridade se inverteu: de que adianta eu ter saúde, se não tenho dinheiro?", explica a guia de turismo Elsa Ruth.