Folha de S. Paulo


Livros injetam vigor ao fim de um ano difícil também para os arquitetos

O ano que vai terminando foi horrível também para a arquitetura brasileira. Encomendas foram adiadas ou canceladas, escritórios tiveram que demitir vários profissionais, e projetos de urbanismo continuaram a rechear gavetas públicas.

Panorama semelhante havia acontecido mesmo nos anos do boom econômico, quando arquitetos ficaram ao longe dos debates sobre Copa do Mundo e da execução do Minha Casa, Minha Vida.

As boas surpresas ficarão reservadas a quem lê e consome informação sobre arquitetura –o patrimônio construído da cidade, prédios clássicos paulistanos, trabalhos de um jovem escritório de sucesso e uma bem-vinda história dos espaços públicos em São Paulo estão entre os lançamentos editoriais deste último bimestre.

Lito Mendes da Rocha/Divulgação
A Casa Butantã, de Paulo Mendes da Rocha, é tema de livro
A Casa Butantã, de Paulo Mendes da Rocha, é tema de livro

*

A ESCOLA MÍTICA

Segundo volume da série "Obras Fundamentais", editado pela faculdade de arquitetura Escola da Cidade, é dedicado à sede da congênere uspiana, abrigada no prédio mais interessante e ousado da Cidade Universitária. O livro traz muitas plantas, fotos e detalhes do edifício brutalista erguido nos anos 60 no então distante bairro do Butantã, e ensaios de vários autores. Há um texto importante de Silvio Oksman que inquire sobre como preservar obras tombadas sem condená-las ao congelamento.

O EDIFÍCIO DA FAU-USP DE VILANOVA ARTIGAS
AUTOR Antonio Carlos Barossi (org.)
EDITORA Editora da Cidade
QUANTO R$ 90 (208 págs.)

*

JOVEM GUARDA

Entre os raros formados pela FAU-USP que declararam independência do brutalismo de Vilanova Artigas, Marcelo Morettin e Vinicius Andrade apresentam neste livro projetos seus da última década, como o Vilela 3, no Tatuapé, para a construtora Porte, e o Pop e o Box 298, ambos na Vila Madalena, para a Zarvos. O livro traz ainda dois trabalhos que venceram concursos de projetos: o novo campus do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, no Rio, e a nova sede do Instituto Moreira Salles, na Paulista, obra em fase de acabamento.

CADERNOS DE ARQUITETURA - ANDRADE MORETTIN
AUTORES Vinicius Andrade e Marcelo Morettin
EDITORA Bei
QUANTO R$ 120 (208 págs.)

*

FLANANDO PELA CIDADE

Editado de forma independente pelos autores, o volume 2 do livro 'Prédios de São Paulo' propõe um percurso bastante livre pelo melhor da arquitetura paulistana entre 1910 e 2014, em que excelentes fotos e textos curtos contam a história e os traços de 36 edifícios de São Paulo. Entre os selecionados, há vários nada óbvios, que merecem um passeio ao vivo para quem gosta de flanar: o Banco Francês e Italiano (de 1919), o Prédio Santo Antônio, na r. João Moura, da década de 20, e o Albina (1962), na Conselheiro Brotero.

Há ainda imagens de aspectos não visíveis da calçada, como a cobertura do edifício Anchieta, na esquina da av. Paulista com Consolação, ou as áreas comuns do Saint Honoré, na Paulista, um predecessor da estética Jetsons.No final do livro, uma esperança de que o pior da arquitetura paulistana tenha ficado para trás: há cinco empreendimentos residenciais de qualidade feitos recentemente.

PRÉDIOS DE SÃO PAULO (VOL. 2)
AUTORES Matteo Gavazzi, Milena Leonel, Emiliano Hagge e Carolina Mossin
EDITORA independente (à venda neste site )
QUANTO R$ 100 (228 págs.)

*

CASA DE FERREIRO

Paulo Mendes da Rocha, o arquiteto brasileiro vivo com mais prêmios internacionais, ganha este pequeno e delicado livro sobre a casa que construiu para viver com a família dos anos 1970 aos 1990. O livro traz comentários do autor sobre cada elemento da residência em concreto aparente projetada em 1964, no estilo brutalista da Escola Paulista. Ele fala sobre o piso de madeira, as claraboias na cobertura, o desenho das portas, a escada e o aproveitamento da água de chuva.

Plantas e desenhos do arquiteto são acompanhados por textos de Catherine Otondo, organizadora do volume. Na infância, ela foi vizinha da casa no paulistano bairro do Butantã, 'uma casa sem pintura e sempre aberta', como define. Há ainda um ensaio do professor Flávio Motta, que escreveu sobre a obra em 1967, na finada revista 'Acrópole', e fotos do filho do arquiteto, Lito Mendes da Rocha. É uma rara oportunidade de ver sua obra residencial –por muito tempo, o autor preferia destacar suas obras públicas em detrimento das obras privadas.

CASA BUTANTÃ
AUTORES Catherine Otondo (org.); Lito Mendes da Rocha (fotos)
EDITORA Ubu
QUANTO R$ 79,90 (112 págs.)

*

O PÚBLICO E O PRIVADO

O administrador de empresas Mauro Calliari consegue, a partir dos estudos feitos para sua dissertação de mestrado, descrever de forma simples, sem jargão acadêmico, a ciclotímica relação dos paulistanos com o espaço público. A partir de uma constatação recente –a de que os paulistanos passaram, nos últimos 20 anos, a evitar o êxodo urbano no Carnaval para ficar na cidade e curtir os blocos de rua– Calliari explica as origens da redescoberta da ocupação de ruas, praças e viadutos.

Ele relembra o Plano de Avenidas, de Prestes Maia, com sua visão rodoviarista e que privilegiava o transporte individual –plano para o qual não faltou verba–, e a cidade de muros e grades que vingou desde os anos 1960 até o início dos anos 2000. Após explicar a legibilidade de espaços públicos de qualidade, das 'ramblas' de Barcelona, na Espanha, à Lapa, no Rio, ele conta o que, afinal, define os atrativos desses locais.Espaço Público e Urbanidade em São Paulo

AUTORES Mauro Calliari
EDITORA Bei
QUANTO R$ 90 (208 págs.)


Endereço da página: