Folha de S. Paulo


Análise

Moda deve rezar para novo raio da Zoomp não ser lampejo passageiro

Num cenário cheio de promessas e poucos resultados práticos como é o da moda brasileira na última década, o retorno da "grife do raio" é uma lufada de ânimo para a indústria da costura.

Aguardada com misto de nostalgia e ressalvas por quem usou as calças "levanta bumbum", lançadas nos anos 1970 pelo empresário Renato Kherlakian, a volta da Zoomp é a última tentativa de reanimar uma grife jogada no limbo após escandalosas brigas judiciais e falhas de gestão.

Da aura glamorosa dos anos 1980 e 1990, quando giravam 4 milhões de peças por mês e grandes modelos, como Gisele e Naomi Campbell, estampavam os catálogos da marca, sobraram apenas quilos de peças afundadas em pontas de estoque.

Essas roupas, "que vão ter cara de pirateadas quando as novas chegarem ao mercado", como acredita o novo dono da etiqueta, Alberto Hiar, não devem durar nas araras.

À Folha, o empresário e fundador da marca de "jeanswear" Cavalera, agora filha mais nova do grupo K2, disse que acionará a Justiça para tirar das ruas quaisquer resquícios da antiga Zoomp.

O discurso está alinhado com o slogan de lançamento que circula nas redes sociais: "um raio não cai duas vezes no mesmo lugar".

Mas também casa com a notícia de que Kherlakian, distante do comando de qualquer marca desde o baque de ver a sua naufragar, não participará da nova gestão.

Hiar afirma que até tentou, mas não chegou a um acordo financeiro com o patriarca. Nos bastidores, porém, comenta-se que foi a falta de consenso sobre os rumos da grife o motivo de as conversas terem empacado. Kherlakian queria mudar, Hiar quer, e deverá, resgatar.

"Quando criarmos qualquer peça, vou sentir o espírito do Renato aconselhando", ameniza o novo dono.

O fato é que essa Zoomp renovada virá mais jovem e mais solar, "algo que os cariocas já fazem com maestria e os paulistas nunca fizeram", de acordo com o empresário.

Trocando em miúdos, sai o espírito cosmopolita de outrora e entra a brasilidade, curvilínea, apoiada em alta tecnologia têxtil e nas modelagens impecáveis que fizeram a fama da grife. O resgate da identidade perdida seria o pulo do gato da marca.

O êxito da Zoomp pode colaborar ainda para limpar a péssima imagem dos grupos de moda brasileiros, execrados pelo público por comprarem marcas e, no afã de conseguir lucros imediatos, descaracterizá-las a ponto de tornar seu estilo irreconhecível.

A bem da verdade, clientes e toda a indústria deveriam rezar para o raio não ser lampejo passageiro e cair, sim, duas vezes no mesmo lugar.


Endereço da página:

Links no texto: