Folha de S. Paulo


Embalada pela Netflix, assinatura de serviço de streaming dobra no Brasil

Entre abril e novembro de 2016, a proporção dos internautas brasileiros que assinam serviços de entretenimento (vídeo e música) via smartphone dobrou. Segundo pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box, eles foram de 19% para 40%.

E em primeiro lugar entre esses 40%, "disparado", no dizer de Fernando Paiva, coordenador da pesquisa, aparece a Netflix, com 59%.

Em seguida vem o Spotify, com 24%, e o Deezer, com 3%, ambos aplicativos de música. O Globo Play tem quase 3%. Os seguintes, como Premiere Play, também do Grupo Globo, marcam em torno de 1% e "nem entram no gráfico".

A pesquisa não identifica o motivo dos consumidores para o salto nas assinaturas, mas Paiva credita a mudança à crise econômica. "A Netflix, que é muito mais barata do que a TV por assinatura, lidera isso", argumenta.

A pesquisa ajuda a compreender por que dois concorrentes americanos da Netflix estrearam no mercado brasileiro em dezembro, Amazon e HBO. E também por que a Netflix acaba de liberar o download de séries e filmes, para assistir off-line no celular, o que amplia seu alcance junto aos consumidores de menor renda.

A empresa, que completou em setembro cinco anos no país, seu primeiro mercado internacional, passou a investir na produção de conteúdo brasileiro, para levar também a outros mercados, começando por "3%".

OS NÚMEROS DE CADA APP - Em novembro de 2016, em %

A primeira temporada da série entrou no serviço em novembro e a segunda já foi encomendada pela gigante de vídeo. Um dos motivos é, segundo levantamento da Netflix, a audiência externa.

Em entrevista, o vice-presidente de séries internacionais da empresa sediada em Los Gatos, na Califórnia, Erik Barmack, afirma que "houve uma audiência maciça no Brasil e um público muito importante fora do Brasil, que nunca antes havia assistido a uma série brasileira e também amou o programa".

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Folha - Quando a Netflix chegou, o Brasil vivia um boom. Mas por que Amazon e HBO vêm agora, na recessão?

Erick Barmack - É uma época interessante para OTT ["over the top", jargão para os serviços de vídeo por assinatura] no Brasil, com certeza. Você tem uma geração que está crescendo em OTT. E é um país grande que ama mídia, então ele será atrativo.

Primeiro mercado internacional, agora "3%": Por que ele parece único para a Netflix?

É um mercado grande com uma geração de pessoas à procura de um tipo diferente de programação de TV. Por alguma razão, os nossos programas ressoaram num nível profundo junto aos brasileiros. Séries como "Orange", "Sense8", "Stranger Things".

Dirigida por José Padilha, "Lava Jato" foi confirmada como próxima série brasileira. A decisão tem a ver com "Narcos"?

Ela só se liga a "Narcos" no sentido que nós queremos trabalhar com os diretores mais talentosos ao redor do mundo, e José Padilha é um deles. Ele tem um ponto de vista único. O programa será quase inteiramente em português, escrito por Elena Soares. E ele será sobre a política, o poder, que são tópicos interessantes.

Divulgação
Erik Barmack, vice-presidente de séries internacionais da Netflix
Erik Barmack, vice-presidente de séries internacionais da Netflix

Mas não aborda um tema controverso para a Netflix?

Poderia ser, mas o fato é que não somos uma empresa sensacionalista, se essa é a palavra. Nós queremos achar boas histórias para contar. Nosso objetivo é sermos equilibrados, então teremos muitas histórias no serviço para você assistir. Esta será uma delas. Nosso objetivo é ter vozes, perspectivas diferentes.

"Lava Jato" vai em português para o mundo todo?

A exemplo de "3%", ela estará em mais de 190 países. Nós vamos produzir muitos programas no Brasil. Estamos fazendo um sem roteiro, com Anderson Silva. Há ótimos diretores, talentos incríveis de interpretação. Bianca Comparato [de "3%"] é uma grande atriz. O que vamos fazer é pegar essas histórias e apresentá-las a uma audiência global.

O Brasil é visto como insular. Pouca gente fala português.

Acredito que é uma questão de distribuição. Realmente não tem sido fácil encontrar séries brasileiras em outras partes do mundo. Mas existia esse mito de que os americanos não gostavam de ver programas com legenda e não foi verdade com "Narcos".

O alcance de "Narcos" nos EUA surpreendeu?

Por um lado, talvez sim, porque nunca havia sido feito algo com mais de 50% dos diálogos em espanhol na TV tradicional. Por outro, não, porque é um grande tema, com um grande diretor e com interpretação de classe mundial, como Wagner [Moura]. Quando foi um sucesso nos EUA, só confirmou a nossa ideia de trabalhar com talentos globais.

Nunca se produziu tanta série, nos EUA e pelo mundo. Não existe um limite para isso?

Da maneira como eu vejo, existem mais séries sendo feitas, mas também mais oportunidades de vinculá-las diretamente a públicos específicos. Mais oportunidades para casar essas audiências com tipos diferentes de conteúdo. Dez anos atrás, seria difícil chegar com uma série brasileira de ficção científica até públicos na Finlândia, África do Sul e outras partes que amariam a série. Mas agora, como serviço global, podemos programá-la ao redor do mundo para pessoas que se identificam com o gênero.


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