Folha de S. Paulo


Ministério Público move ação contra Hadadd e diretores do Municipal

O prefeito Fernando Haddad, o secretário de comunicação municipal Nunzio Briguglio Filho, o ex-secretário de cultura do município e ex-ministro da Cultura Juca Ferreira e o maestro John Neschling estão entre os nomes relacionados na ação civil que o Ministério Público ajuizou após investigar irregularidades nas contas do Theatro Municipal.

O promotor Marcelo Milani, autor do processo, disse que os acusados têm participações em diversas irregularidades e improbidades administrativas. Segundo ele, Haddad foi alertado por José Luiz Herencia e também pelo Tribunal de Contas do Município de que a contratação do IBGC –responsável pela administração da casa–, e do maestro Neschling para diretor artístico, eram ilegais.

O agravante é o salário que Neschling recebia: R$ 150 mil mensais, além de cachês extras. Ele foi afastado em setembro.

A promotoria pede na Justiça a devolução de R$ 129 milhões, equivalente aos recursos destinados ao IBGC entre 2013 e 2015. O promotor também requereu a suspensão dos direitos políticos dos agentes públicos citados.

Paralelamente à ação civil, corre no Ministério Público investigação criminal sobre desvio de recursos do Theatro. O valor requerido por Milani é superior ao rombo nas contas da casa (entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões).

Eduardo Anizelli/Folhapress
O Theatro Municipal de São Paulo

OUTRO LADO

Em nota, a prefeitura afirmou que Haddad tem representação anterior contra Marcelo Milani na Corregedoria do Ministério Público. Nela, questiona se há motivação política em ação de improbidade administrativa movida pelo promotor, sobre multas de trânsito.

"Semana passada, na ação promovida pelo mesmo promotor sobre aplicação de recursos de multas, não apenas o prefeito foi inocentado, como a sentença recém proferida deixou claro o grau de irresponsabilidade deste membro do MP", indicou a Secretaria de Comunicação da Prefeitura em comunicado.

"Este terceiro episódio (Cide Corinthians, multas) também será alvo de uma possível representação, uma vez que a Prefeitura recebeu denúncia de que o promotor Marcelo Milani é parente de um integrante do Theatro Municipal, que encontra-se sob investigação, e não se declarou impedido."

A defesa de Neschling classificou a acusação como infundada. "O Ministério Público deu crédito a depoimentos de delatores, de administradores desonestos e confessos do Municipal", diz nota do advogado Flávio Yarshell.

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ENTENDA O CASO

NOV.2015
José Luiz Herencia, então diretor-geral da Fundação Theatro Municipal, pede exoneração do cargo. Em dezembro, após apreensões em seus imóveis, passa a responder inquérito no Ministério Público. A Controladoria Geral do Município identifica rombo milionário nas contas do Theatro, relacionadas a esquema de superfaturamento de óperas

FEV.2016
Herencia tem bens bloqueados na Justiça. A Promotoria faz nova apreensão no Instituto Brasileiro de Gestão Cultural, organização social responsável pelas contas do teatro. William Nacked, seu diretor, é afastado do cargo e Paulo Dallari assume a administração geral do Municipal como interventor

MAR.2016
Com acordo de delação premiada, Herencia envolve outros agentes do Theatro na investigação. Aponta conflitos de interesse em contratações que envolvem um agente internacional de John Neschling, diretor artístico

JUN.2016
Câmara abre CPI do Theatro Municipal. No mês seguinte, Carlus Padrissa, diretor do grupo Fura Dels Baus, atesta no Ministério Público que o agente de Neschling no exterior, Valentin Proczynski, cobrou valor maior do teatro do que aquele que deveria ser pago ao grupo. Relatório da Controladoria aponta que rombo nas contas do teatro são de R$ 15 milhões

AGO.2016
Justiça autoriza a quebra de sigilo dos e-mails do maestro John Neschling, pedida pelo Ministério Público do Estado. A comissão da Câmara dos Vereadores faria o mesmo pedido à Justiça, porém este foi cancelado antes da votação pelo relator da CPI, o vereador petista Alfredinho

A CPI sinaliza requerer à Justiça a condução coercitiva de Neschling a uma próxima sessão. Também houve a decisão de requerer à Polícia Federal o passaporte do maestro e a suspensão de pagamentos a ele pelo Instituto Brasileiro de Gestão Cultural

SET.2016
No dia 5/9, o maestro John Neschling foi afastado do cargo diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo, dizendo-se traído por "todos aqueles" que um dia disseram prezar seu trabalho.

Dez dias após ser afastado do cargo, Neschling foi intimado a comparecer a sessão da CPI da Câmara Municipal. Ele já havia prestado depoimento em agosto, mas permaneceu em silêncio diante de todos os questionamentos feitos pelos vereadores da comissão.


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