Folha de S. Paulo


Irmãos Cavalera fazem homenagem preguiçosa aos 20 anos de 'Roots'

Irmãos Cavalera se apresentam em show no Imperator, no Rio

Na teoria, a ideia tinha potencial: Max e Iggor Cavalera, criadores do Sepultura, fariam uma turnê para comemorar os 20 anos de "Roots", tocando na íntegra um dos discos mais importantes da história do metal e o último do vocalista com a banda.

O que se viu na prática, no entanto –na noite desta quarta (14), no Rio–, foi um show mal resolvido e mal executado, que só não naufragou por completo graças ao carisma dos irmãos, idolatrados pelos headbangers (e com justiça), e à força da obra homenageada.

O evento aconteceu no Imperator, casa de shows no Méier, zona norte do Rio. O local escolhido só reforçou a má impressão: duas décadas atrás, foi ali que o Sepultura fez sua última apresentação na cidade com Max, justamente na turnê do "Roots". Na época, a casa tinha o dobro do tamanho, o show teve o dobro de público e a banda tinha o dobro da potência. E a abertura foi com o Ratos de Porão (a atual ficou a cargo do Incite).

Executar o álbum ao vivo nunca seria tarefa simples. "Roots" teve impacto por sua mistura inovadora de metal com ritmos brasileiros de matriz indígena e africana. É um disco complexo, com inúmeros instrumentos e participações – a mais comentada (e polêmica) delas, a de Carlinhos Brown e sua Timbalada.

Os Cavalera até tentam reproduzir o clima "raiz" do álbum em determinados momentos do show. Max, por exemplo, deixa de lado a guitarra para tocar berimbau em "Attitude" e tambor em "Ambush". Mas faltam muitas camadas para que o som fique completo – os irmãos são acompanhados apenas pelo baixista Johnny Chow e pelo guitarrista Marc Rizzo.

Marco Aurélio Canônico/Folhapress
Max e Iggor Cavalera fazem show comemorativo de 20 anos do álbum
Max e Iggor Cavalera fazem show comemorativo de 20 anos do álbum "Roots", do Sepultura, no Imperator, no Rio

A pobreza da abordagem fica clara em canções como "Itsári", originalmente gravada com os índios xavante em uma aldeia no Mato Grosso: no show, ela virou um playback, com Iggor tocando sozinho. O baterista também tem a inglória missão de preencher a ausência de Brown e de seus timbaleiros em diversas faixas, como no sucesso "Ratamahatta" (composta pelo baiano e pelo Sepultura). O resultado perde muito da força percussiva original.

De todo modo, a apresentação teve seus bons momentos – como o disco, ela já começou pelo ápice, com "Roots Bloody Roots", pedrada que só reforçou seu status de clássico nos últimos 20 anos. A nervosa "Spit" e a política "Dictatorshit" também foram pontos altos.

Max, cada vez mais corpulento e com um dread gigantesco na cabeça, comandou a massa (reduzida, na verdade, dado que os ingressos mais baratos custavam R$ 180) pedindo gritos, palmas e roda. O público abriu rodas em diversos momentos, mas no geral foi mais reverente do que empolgado. O som baixo do Imperator também contribuiu para isso.

Finalizado o "Roots", em cerca de uma hora, os Cavalera dedicaram o resto do show a covers e velhas preferidas dos fãs, ficando sozinhos no palco em boa parte desse final.

Começaram com uma versão tosca de "War Pigs", do Black Sabbath, melhoraram em "Procriation (of the Wicked)", do Celtic Froast, e chegaram a seu melhor resultado em "Ace of Spades" e "Orgasmatron", do Motorhead, passando ainda por "Polícia", dos Titãs. Do Sepultura, mostraram trechos de "Desperate Cry" e "Inner Self".

Quem quiser conferir se tudo não passou de uma noite ruim pode pegar a turnê comemorativa em Belo Horizonte (nesta quinta, 15) e em São Paulo (na sexta, 16).


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