Folha de S. Paulo


Terceira edição da Comic Con teve convidados de peso e festival de filas

Nem Milla Jovovich mandando beijinhos ao público, nem Vin Diesel fazendo coraçãozinho com as mãos, nem Natalie Dormer arrancando urros da plateia ao desejar a morte de Cersei em "Game of Thrones": o destaque da terceira edição da Comic Con Experience, que ocorreu de quinta (1º) a domingo (4), em São Paulo, foram as filas.

Elas estavam em todos os lugares -desde a entrada, por onde passavam bovinamente aqueles que pagaram até R$ 400 para colocar os pés na São Paulo Expo, até a saída, onde os visitantes eram recebidos por profissionais que ordenavam aos berros onde pegar táxi, Uber, ônibus.

Dentro do pavilhão, coisas simples se tornavam uma tortura: a fila para chegar ao balcão de informações e perguntar "onde fica a fila para o auditório?" levava 5 minutos; a fila para carregar o celular, 20; a fila para comer, meia hora. A reportagem chegou a ficar cinco horas na fila para entrar no auditório Cinemark e ver o painel da Marvel no sábado (3).

PESOS-PESADOS

Não que a espera incomodasse os reais interessados no evento: os visitantes. A maioria dos fãs ouvidos pela reportagem se disse satisfeita com o que viu.

Na saída da apresentação de James Gunn, diretor de "Guardiões da Galáxia" (2014), uma garota de cabelos cacheados azuis mandava entusiasmada um áudio de WhatsApp: "Seis horas de fila, passei fome, mas valeu a pena, saca? Melhor dia de Comic Con".

Quem resistiu às filas encontrou nos painéis convidados de peso, que receberam urros dos fãs cada fim de frase. A começar pelo homenageado deste ano, Renato Aragão, o Didi. Na quinta, ele afirmou que a série "Os Trapalhões" vai voltar à TV, com seis integrantes: "Eu, Dedé e mais quatro", sem dar data. "Mas eles não vão substituir os que já foram [Mussum e Zacarias]."

Naquele dia, a Paramount exibiu 20 minutos do longa de ação "xXx: Reativado" e trouxe Vin Diesel, protagonista da franquia, para o evento. O ator afirmou que "estava morrendo de vontade de fazer um filme em que eu pudesse rir de novo" -um de seus últimos, "Velozes & Furiosos 7", não abre espaço para humor.

A atriz Natalie Dormer, que interpretou Margaery Tyrell até a sexta temporada de "Game of Thrones", também se apresentou na quinta. Disse que quer ver Cersei, sua algoz na série da HBO, sofrer.

A britânica também falou sobre papéis femininos na indústria audiovisual: "A mudança está acontecendo", disse. "Hollywood entende que agora é financeiramente viável apostar em histórias protagonizadas por mulheres."

A atriz considera 2016 "um ano estranho": "O 'brexit' [a saída do Reino Unido da União Europeia] foi um choque para mim. Vivemos um tempo difícil, nos sentimos sem controle. Por isso 'Game of Thrones' e 'Jogos Vorazes' são populares: são histórias que discutem preconceito, política e violência", disse.

Preconceito também esteve presente na fala do escritor Milton Hatoum, que discursou na sexta (2) sobre a adaptação de seu livro, "Dois Irmãos", em HQ e filme. O autor disse esperar que a obra acabe com a repulsa da literatura "e atinja um público que nunca viu isso [o romance]".

Quem também se apresentou naquele dia foi Adam Nimoy, filho de Leonard Nimoy, ator que interpretou Spock na série "Star Trek", de 1966. Adam exibiu na CCXP "For the Love of Spock", documentário sobre o personagem de orelhas pontudas.

"Foi um projeto que eu comecei com ele, em novembro de 2014", disse -Leonard morreu três meses depois. "Assim que falei que precisávamos fazer algo para os 50 anos do Spock, ele topou."

Única das emissoras abertas a marcar território, a Globo trouxe Marcelo Adnet -afiado nas piadas de cunho político- para apresentar Monica Iozzi, Tony Ramos e Alexandre Machado, os protagonistas e o coautor da série "Vade Retro". Também exibiu os primeiros trechos de "Carcereiros", baseada em livro homônimo de Drauzio Varella, e "Filhos da Pátria", todas previstas para 2017.

DA TV

A presença da Globo na Comic Con mostra que a emissora busca se adaptar ao público que não consome TV de maneira linear. A mesma ideia -mas voltada para o cinema- teve a Paris Filmes, que, no sábado (3), antecipou dois lançamentos com celebridades digitais: uma cinebiografia de Christian Figueiredo e "Internet - O Filme", criado por Rafinha Bastos.

Naquele dia, a Marvel apresentou sua nova personagem: a brasileira The Conjuror, que aparece nos quadrinhos do Doutor Estranho.

O encontro da Marvel reuniu brasileiros Danilo Beyruth, que desenha histórias como "Motoqueiro Fantasma" e "Wolverine", R.B. Silva, de "Uncanny Inhumans", Will Conrad e a colorista Cris Peter, que colabora com títulos como "Capitão América".

James Gunn, diretor de "Guardiões da Galáxia" -que teve a segunda maior arrecadação mundial em 2014, superior a US$ 773 milhões-, veio ao Brasil para falar sobre a sequência do filme, prevista para 2017. Foi recebido como um rockstar.

A última grande atração foi Neil Patrick Harris, protagonista de "Desventuras em Série". Em um painel, disse ter se inspirado em Alan Rickman, o professor Snape de "Harry Potter" e morto no começo de 2016, para interpretar seu Conde Olaf.

Ainda houve tempo para a Netflix confirmar a segunda temporada de "Luke Cage" -sem data de lançamento- e de "3%", primeira série nacional da plataforma.

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FOI BOM

Convidados excelentes
Bem diversificada, a seleção levou alguns fãs ao delírio

Curadoria do Artists' Alley
Bons artistas independentes

Atividades dos expositores
Estandes capricharam nas ações

FOI MAU

Trânsito infernal
Profissionais se esforçaram para deixar a saída caótica

Falta de lixeiras
Alguns locais ficaram imundos

Seguranças autoritários
Péssimo tratamento


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