Folha de S. Paulo


Campos de Carvalho terá seus dispersos reunidos em livro

Luciana de Francesco/Divulgação
O escritor mineiro Campos de Carvalho. [FSP-Ilustrada-29.10.96]*** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***
O escritor Campos de Carvalho em seu prédio, em Higienópolis

"É uma obra fora da tradição da prosa brasileira. São livros com temas interditos, com uma sexualidade problemática. É engraçado que os críticos hoje deem um jeito de não falar disso"Noel arantespesquisador

Campos de Carvalho (1916-1998) prometia escrever um livro para ser lido por três pessoas –ao mesmo tempo. Não acreditava na existência da Bulgária. Contava também ter encontrado o diabo, que tinha olhos maravilhosos.

O escritor com fama de iconoclasta –às vezes também de louco– virou uma figura tão notória quanto oculta. Embora tenha seu grupo de acólitos, acabou esquecido pelo público em geral.

Agora, em seu centenário, Campos de Carvalho surge mais uma vez –sua obra completa começa a ser reeditada pela Autêntica.

O primeiro livro a sair é o mais famoso, "A Lua Vem da Ásia (1956) –memórias de um sujeito que vive numa mistura de hospício, campo de concentração e hotel de luxo.

Na fila, estão também "Vaca do Nariz Sutil" (1961). "A Chuva Imóvel" (1963) e "O Púcaro Búlgaro" (1964). Ficam de fora os livros que o autor nascido em Uberaba renegou: "Banda Forra" (1941), com ensaios fazendo piada dos textos sobre a identidade brasileira, e o romance "Tribo" (1954).

"Ele acabou virando um escritor de escritores. Quando eu falava dele, as pessoas o confundiam com outro autor. Quem conhecia achava que ele estava morto", diz Maria Amélia Mello, que reeditou sua obra em 1995, pela José Olympio, e hoje faz o mesmo na nova casa.

DESCONHECIDOS

O trabalho com a obra do autor uberabense não fica só com os livros conhecidos –em 2017, ainda sairá um volume chamado "O Espantalho Inquieto", com dispersos e inéditos do escritor.

A organização é do pesquisador e crítico Noel Arantes, que reuniu os textos de Campos de Carvalho desde que fez seu mestrado na obra no autor, em 2004.

Entre os textos que nunca foram publicados em livro, está boa parte da coluna "Os Anais de Campos de Carvalho", publicadas no "Pasquim" nos anos 1970. Também há o conto "Os Trilhos", publicado na extinta revista "Senhor", em 1961, além da novela "Espantalho Habitado de Pássaros", que saiu em uma antologia de 1965.

Além disso, Arantes diz ter separado dois textos em prosa e dois poemas inéditos de Campos de Carvalho. Ele cultivou uma amizade com Lígia, viúva do autor, também já morta, que lhe confiou acesso aos papéis deixados por ele.

A amizade começou depois que Arantes encontrou, em Uberaba, uma série de 40 poemas e os dois textos em prosa –dados por Campos de Carvalho a um amigo.

"Esse amigo se chamava José Sexto Batista. Ele recebeu esses textos na década de 1940. Com a morte dele, sua biblioteca acabou doada para um centro de cultura lá", conta Arantes.

Além dos textos do autor, o pesquisador também reuniu suas entrevistas –um gênero literário à parte– e sua fortuna crítica, que inclui o texto clássico de Sérgio Milliet criticando Campos de Carvalho por se "fingir" de louco (personagem que o escritor passa a encarnar nas entrevistas).

A Lua Vem Da Àsia
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"Ele tem uma obra fora da tradição da prosa brasileira. Ele é realmente um 'enfant terrible'", diz Arantes. "São livros com temas interditos, com uma sexualidade problemática. É engraçado que os críticos hoje deem um jeito de não falar disso".

A LUA VEM DA ÁSIA

AUTOR Campos de Carvalho

EDITORA Autêntica

QUANTO R$ 47 (176 págs.)


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