Folha de S. Paulo


Milton Hatoum se diz satisfeito com adaptação televisiva de 'Dois Irmãos'

Milton Hatoum gostou do que viu: nesta sexta (2), assistiu pela primeira vez aos personagens de seu romance "Dois Irmãos" na pele de Cauã Reymond em cenas da série escrita por Maria Camargo e dirigida por Luiz Fernando Carvalho.

A adaptação do livro ­­â€“uma tragédia familiar sobre dois irmãos gêmeos em Manaus­â€“ para a TV estreia em janeiro na Globo. O primeiro trailer da minissérie foi exibido nesta tarde, em um painel na Comic Con Experience, em São Paulo ­â€“duas vezes, a segunda a pedido do público.

"Pelo que vi, ufa, pegou", disse o escritor, aparentemente entusiasmado com o resultado. Hatoum acompanhou de perto, ao longo de 14 anos, a tradução de suas palavras em imagens.

Tudo começou com a leitura de Maria Camargo: fisgada pelo romance, a roteirista sugeriu uma adaptação à Globo, mas a princípio não era a ocasião de investir na história para a emissora.

Gabriela Sá Pessoa
Milton Hatoum, Fábio Moon, Gabriel Bá, Rodrigo Fonseca, Maria Camargo e Cauã Reymond em painel da Comic Con Experience 2016
Milton Hatoum, Fábio Moon, Gabriel Bá, Rodrigo Fonseca, Maria Camargo e Cauã Reymond

Aproximou-se do autor mesmo assim, e foram conversando (e trabalhando) ao longo dos anos até que Carvalho se interessasse pela história e o projeto começasse a sair do papel, em 2010.

Nesse intervalo, os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá também lançam a sua versão da história, em quadrinhos.

"O Milton sempre é generoso com as histórias dele, acredita que, no momento que as fez, não lhes pertencem mais", disse Moon.

Assim como o trabalho de Camargo para a TV, Hatoum acompanhou de perto os desenhos dos gêmeos da HQ.

O desejo por contar essa história esteve também em Cauã Reymond, convidado para interpretar os gêmeos Omar e Yaqub na versão televisiva. Ele contou que desde a primeira vez que leu "Dois Irmãos", em 2006, queria o papel para si.

Segundo o ator, é um trabalho que lhe permitiu fugir das emoções binárias, próprias da telenovela, gênero que o revelou. "Adoro novela, mas ela só permite ou mocinho, ou vilão, ou cafajeste. Às vezes, você fica com poucas possibilidades em termos de dramaturgia."

"'Dois Irmãos' é um dos personagens que, às vezes, você passa a carreira inteira sem a possibilidade de poder fazer", diz Cauã, satisfeito com as novas possibilidades da emissora em que trabalha nas séries e novelas exibidas às 23h.

Seu último trabalho na TV foi a série "Justiça", exibida de agosto a setembro e possivelmente a ficção televisiva mais marcante e elogiada de 2016. Tanto que atraiu a audiência do próprio Hatoum, que não costuma parar para assistir certos programas "de jeito nenhum".

O escritor disse esperar que "Dois Irmãos" quebre preconceitos "e atinja um público que nunca viu isso [o romance]".

"Qual é a batalha do escritor brasileiro? Tirar o leitor da lista do best-seller e trazer, não sei nem se para o 'Dois Irmãos', mas para o 'Vidas Secas', de Graciliano Ramos", disse.

"Eu me ajoelho muitas vezes ­â€“ontem mesmo aconteceu isso, no consultório do dentista­â€“, e digo [para quem lê best-seller]: não leia isso, leia 'São Bernardo' [de Graciliano]", contou Hatoum, bem humorado.


Endereço da página:

Links no texto: