Da virada do milênio para cá, desde que a franquia Harry Potter se tornou um sucesso, uma comparação tem perseguido o ator Luciano Amaral e o cineasta Cao Hamburger: as semelhanças entre o bruxinho britânico e o universo de "Castelo Rá-Tim-Bum".
Segundo Hamburger, criador do "Castelo", há mais semelhanças entre as duas histórias do que a base de narrativas fantásticas e de bruxaria, que acompanham a literatura desde sempre. Nos anos 1990, ele diz, "de alguma forma essa ideia estava no ar".
Bruno Poletti/Folhapress | ||
Cao Hamburger durante lançamento da série 'Que Monstro Te Mordeu' |
"O mundo esperava um aprendiz de feiticeiro chegar. Podia ser o Nino, mas foi o Harry Potter", afirmou Hamburger na tarde desta quinta (1º), em um painel na Comic Con com Paulo Silvestrini, diretor da Globo, mediado por Amaral —famoso ainda na infância pelo menino Pedro, do "Castelo".
Naqueles anos do "Castelo", os computadores e aparelhos celular estavam prestes a se popularizar, e a "magia" nas comunicações que a revolução digital permitia era parte do espírito da época.
"Sabíamos que algo ia acontecer, e de repente apareceu o Windows. A ideia de janelas que se abrem está presente naquela estrutura do "Castelo" [com elementos do cenário que serviam como passagem para outras histórias]", afirmou Hamburger. "Tinha o prenúncio de uma grande revolução e, sem querer, a gente captou aquela loucura."
Procurado por emissoras americanas para vender o formato, Hamburger revelou que a TV Cultura, que produzia o programa infantil, nunca quis vender a ideia para o exterior. Ele diz acreditar que o "Castelo" representou o ápice criativo da emissora pública, que vinha investindo anos antes em grandes produções infantis como o "Mundo da Lua" e o "Rá-Tim-Bum".
NOVA FASE
Após rodar filmes para o público adulto –como "O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias" e "Xingu"–, Cao Hamburger está de volta ao universo juvenil.
Pela primeira vez, escreve uma telenovela: a temporada de 2017 de "Malhação", dirigida por Paulo Silvestrini, que estreia no início do ano que vem.
Juntos, estão criando uma história ambientada em São Paulo, e não quiseram dar detalhes sobre a trama. A promessa é que retrate o jovem conectado, ao mesmo tempo em que buscará dialogar com os pais e avós que veem televisão junto com eles.
"Nunca pensei que fosse entrar nesse tipo de roubada. Se não fosse o Paulo, teria desistido", brincou Hamburger, sobre o trabalho longevo –e aberto, sob o julgamento do público– de escrever enquanto a obra vai ao ar.
Segundo o autor, é seu trabalho mais longo: "Castelo" teve 90 capítulos, disse, enquanto "Malhação" deve passar dos 200.