Folha de S. Paulo


Ser a garota da banda 'era desafiador', diz Gillian Gilbert, do New Order

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O New Order se apresenta em São Paulo, no começo de dezembro
O New Order se apresenta em São Paulo, no começo de dezembro

Um erro de Gillian Gilbert, 55, deu ao New Order seu maior hit. Durante as sessões de "Blue Monday", a tecladista iniciou o sequenciador na hora errada e a melodia entrou fora do tempo.

"Queríamos criar uma música que pudesse ser tocada somente pelas máquinas para deixarmos o palco e não voltarmos para o bis", ela relembra em entrevista à Folha.

O experimento não teve êxito total, já que a banda inglesa retorna ao Brasil para um único show na próxima quinta (1º), no Espaço das Américas.

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Folha - A lenda diz que "Blue Monday" foi composta numa caótica jam de sintetizadores
Gillian Gilbert - Sim! Ficamos o dia inteiro tentando fazer a música funcionar. Éramos fascinados pelo Kraftwerk e nossa ideia era criar uma canção que pudesse ser tocada só pelas máquinas enquanto um robô cantaria os versos "How Does It Fell". Mas deu tudo errado. O Stephen Morris tropeçou num cabo e perdeu toda a programação da bateria. Levei uma semana para programar o sample, mas na hora H ele pifou e entrei com a melodia fora do tempo Na versão final, a angústia dos versos do Bernard Sumner era autêntica.

Na música você programou os sintetizadores. Como era ser a garota da banda?
Desafiante. No final dos anos 1970, poucas garotas participavam de bandas sendo apenas instrumentistas. Todo mundo ficava: "Nossa, você não é vocalista?". E isso me irritava porque sempre tive mais interesse em programar os sintetizadores e sequenciadores. Foi quando o movimento punk pegou na Inglaterra e você tinha bandas como o Adverts, que tinha a Gaye Advert como baixista, e as coisas foram mudando

A banda estourou em Londres no auge da cena rave, época em o Reino Unido era o epicentro criativo na Europa. Acha que o mundo encaretou?
Sim, veja o Brexit! É chocante, dividiu famílias Mas é a democracia. O problema é que as pessoas clamam por mudança, mas não sabem exatamente o que querem. São tempos loucos e tristes.

Algum artista ou vertente da música eletrônica atual empolga vocês?
Gostamos do [grupo londrino de house] Factory Floor que tem uma filosofia sonora parecida com a nossa, bem minimalista. E claro, pegamos algumas novidades com nossos filhos (risos). Mas no geral é engraçado notar como hoje os jovens artistas estão mais interessados em sequenciadores e baterias eletrônicas que surgiram na nossa época do que no celular de última geração.

O New Order sempre é citado como referência por novos artistas. Como avaliam o legado da banda?
Nosso lema sempre foi nunca se repetir. O "Music Complete" [disco lançado em 2015] surgiu da nossa necessidade de não ficar parado no tempo. Poderíamos escrever inúmeras "Blue Mondays", mas qual é a graça de tocar sempre a mesma música?

NEW ORDER
QUANDO quinta (1), às 23h
ONDE Espaço das Américas - r. Tagipuru, 795, tel. (11) 3864-5566
QUANTO de R$ 210 a R$ 380
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


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