Folha de S. Paulo


Arquiteto David Libeskind ganha exposição em sua obra mais conhecida

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Visão do interior do Conjunto Nacional, na avenida Paulista
Visão do interior do Conjunto Nacional, na avenida Paulista

Ao completar 30 anos, David Libeskind tinha currículo de arquiteto veterano. Casas e edifícios residenciais nos Jardins e no centro, um conjunto habitacional para operários da refinaria União, em Santo André, e um hospital infantil em Sorocaba.

Mas seu maior presente de aniversário foi a inauguração da base horizontal do Conjunto Nacional, com suas lojas e restaurantes no estratégico encontro da Paulista com Augusta, na presença do então presidente Juscelino Kubitschek, em dezembro de 1958.

Era um reencontro entre os dois: ainda governador de Minas, JK entregou o anel de formatura ao melhor aluno da turma de arquitetura da UFMG de 1952, o próprio Libeskind.

Morto há dois anos, finalmente ele recebe a primeira exposição dedicada a sua carreira de arquiteto e artista (ainda adolescente, foi aprendiz do pintor Alberto Guignard, e continuou pintando nas décadas seguintes).

Na semana em que completaria 88 anos, fotos de seu trabalho ocupam um corredor de sua obra mais famosa, na avenida Paulista.

Como Libeskind é praticamente um desconhecido fora do círculo dos arquitetos e, por muito tempo, até mesmo nas faculdades de arquitetura?

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Ed. Arper, que junta sílabas das ruas Aracaju e Pernambuco
Ed. Arper, que junta sílabas das ruas Aracaju e Pernambuco

"Meu pai viveu sob 20 anos com o mal de Parkinson. Como a vida dele era desenhar e pintar, ele foi se fechando cada vez mais na medida em que perdia os movimentos das mãos", conta o filho, o engenheiro Marcelo Libeskind.

Sua obra começa a ser redescoberta. Na década passada, dois pesquisadores investigaram a carreira do artista enquanto ele estava vivo. Graças aos dois, Libeskind acabou catalogando fotos e desenhos.

Luciana Tombi Brasil lançou o único livro publicado sobre ele ("David Libeskind: Ensaio sobre as Residências Unifamiliares", ed. Romano Guerra com Edusp, 2007), no qual se concentra no aspecto menos conhecido da carreira dele, o de suas casas.

O arquiteto Fernando Viegas fez uma pioneira dissertação de mestrado sobre o Conjunto Nacional, em 2003. "Aquele prédio mostra o que São Paulo poderia ter sido", diz.

Até o alemão Mies van der Rohe, ex-diretor da mítica Bauhaus, elogiou o projeto do Conjunto Nacional –para muitos urbanistas, o melhor exemplo de edifício de usos mistos (escritórios, comércio, entretenimento e apartamentos) de São Paulo.

CONSTUTORA

Libeskind virou incorporador meses após da cerimônia com JK. Quando o mercado imobiliário começou a prescindir de projetistas do primeiro time, Libeskind criou sua própria construtora, junto com Simon Schaimberg.

Em apenas quatro anos, lançariam dez edifícios em Higienópolis. Em vez de nomes afrancesados ou italianados, sua construtora batizava os prédios de acordo com as esquinas onde se erguiam: Alomi (na esquina das ruas Alagoas e Itacolomi), Arabá (Aracaju com Bahia) e Arper (Aracaju com Pernambuco).

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A arquiteto David Libeskind em seu ambiente de trabalho
A arquiteto David Libeskind em seu ambiente de trabalho

Seus últimos dois grandes projetos não saíram do papel: uma versão menor do Conjunto Nacional que seria instalada no local conhecido hoje como parque Augusta, e o Auditório Rino Levi, um grande teatro de arena para 5.000 pessoas, ao ar livre, na praça Princesa Isabel.

A exposição foi idealizada pelo filho, por Matteo Gavazzi e Felipe Griffoni, com curadoria de Milena Leonel e Gaps Magazine. "Muitos só fazem referência a sua obra maior, sem saber que sua arte e obra foram muito mais extensas", diz Gavazzi, criador do coletivo. "Ele foi um gênio."

DAVID LIBESKIND
QUANDO de seg. a sáb., das 9h às 22h; dom., das 12h às 20h; até 24/12
ONDE Conjunto Nacional (av. Paulista, 2.073)
QUANTO grátis


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