Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Metallica aprende a usar a internet e se mantém relevante

Clipe de 'Atlas, Rise!'

A banda que foi referência de rebeldia adolescente amadureceu. O grupo que foi símbolo da luta contra a internet aprendeu a usar a rede a seu favor. Evoluindo, mas sem tentar se reinventar musicalmente, Metallica lança nesta sexta (18) seu décimo disco de estúdio, "Hardwired to Self Destruct".

O trabalho dá polimento novo, mais adulto, ao estilo de rock pesado desenvolvido ao longo de mais de três décadas. Enquanto isso, usa uma estratégia de blitzkrieg de divulgação.

Antes do lançamento oficial, todas as 12 músicas novas foram disponibilizadas na internet, cada uma com um clipe próprio. E o disco vai ser lançado em um show em Londres, com transmissão ao vivo pelo YouTube às 19h (de Brasília) –nem parece a banda que em 2000 perdia relevância com discos medíocres e comprava briga com o Napster, que, ironicamente, vai abrigar toda a discografia do Metallica a partir desta sexta.

Evan Agostini/Invision/ASSOCIATED PRESS
Musicians Robert Trujillo, left, and James Hetfield of Metallica perform at the 2016 Global Citizen Festival in Central Park on Saturday, Sept. 24, 2016, in New York. (Photo by Evan Agostini/Invision/AP) ORG XMIT: NYEA141
Robert Trujillo (esq.) e James Hetfield em show do Metallica em Nova York, em setembro

A prova do amadurecimento é que na véspera do lançamento, a banda apareceu na TV dos EUA tocando um dos seus clássicos, "Enter Sandman", com instrumentos de brinquedo ao lado de Jimmy Fallon. É preciso estar muito seguro para rir de si mesmo.

Esta segurança está evidente em "Hardwired", que mostra que envelhecer e amadurecer não significa deixar para trás suas origens. Pelo contrário, o que o Metallica faz é revisitar o melhor do seu passado e das suas influências e dar um tratamento novo ao rock pesado que fez a carreira da banda.

O disco traz referências a algumas das mais importantes músicas do próprio Metallica e a bandas que ela admira. A música que dá título ao álbum parece uma volta da banda a suas primeiras gravações, e talvez se encaixasse bem em um disco como o "Ride the Lightning", "Moth into flame" poderia ter saído de uma mistura entre o álbum preto e o "Master of Puppets".

Apesar da familiaridade, todas elas têm uma personalidade própria e marcante. "Atlas Rise", uma das melhores do disco, tem um aceno claro a Iron Maiden, em "Dream no More", James Hetfield canta como se estivesse ao lado do Alice in Chains. "Confusion" tem um começo que parece algo como "Am I Evil", música do Diamond Head que faz parte do repertório do Metallica desde sempre.

Depois de oito anos desde o último álbum de estúdio, "Death Magnetic". A banda deixa para trás a necessidade de autoafirmação que estava presente ali, em esforço para superar a crise de identidade dos anos 1990.

Agora a banda mostra que não precisa se reinventar e parece não ter mais nada a provar. O disco soa muito natural, com impressão digital do grupo em cada uma das 12 canções. Ao relaxar e abraçar a história da banda, o Metallica produz o melhor trabalho em décadas.

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