Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Caótica, mostra 'Cinerama' reforça o culto à celebridade

De Lady Gaga a Sonia Braga, de Sharon Stone a Catherine Deneuve, de Gerard Butler a Gore Vidal.

Alguns dos grandes ícones da cultura pop e cult estão presentes na mostra "Cinerama", uma retrospectiva de toda a produção audiovisual do artista italiano Francesco Vezzoli, em cartaz no Oca, no parque Ibirapuera.

São 19 trabalhos, todos exibidos em telas de LCD, que de certa forma possuem a mesma estratégia: utilizar celebridades para questionar o culto às celebridades.

É assim, por exemplo em "Greed" (ganância), de 2009, a propaganda de um perfume ficcional, que tem o nome do artista, e é dirigido de fato por ninguém menos que Roman Polanski, com atuação de Natalie Portman e Michelle Williams.

No filme, composto por clichês da propaganda como o cenário elegante, mulheres lindas e música romântica, as duas atrizes, contudo, acabam no chão, disputando o fraco de perfume como se fossem lutadoras na lama.

Divulgação
Cartaz que funde construtivismo russo e Lady Gaga
Cartaz que funde construtivismo russo e Lady Gaga

DEMOCRAZY

Nem sempre esse componente um tanto surreal denuncia a falsidade das produções. Em "Democrazy" (2007), por exemplo, Vezzoli simula uma campanha eleitoral à Presidência dos Estados Unidos disputada por uma mulher, interpretada pela atriz Sharon Stone, e um homem, interpretado pelo filósofo francês Bernard-Henri Lévy.

As propagandas exibidas foram realizadas com consultoria de marqueteiros do Partido Republicano e do Partido Democrata. Por isso mesmo, em nada se diferenciam da demagogia usualmente utilizada nas reais campanhas eleitorais.

Diante disso, é possível se perguntar até que ponto trabalhos artísticos que visam criticar um sistema de fato são eficazes, já que são cópias perfeitas daquilo que pretendem questionar.

Na mostra da Oca, essa questão ganha ainda maior impacto, já que todas as obras –com exceção de duas pornográficas, dispostas em salas protegidas– são exibidas sem condições de áudio adequadas, o que torna praticamente impossível ouvir o que ocorre em cada tela.

Assim, a ironia que pode surgir dos textos desaparece, e as imagens de celebridades se tornam o grande destaque da exposição, reforçando assim o culto ao espetáculo.

Essa orientação, contudo, teria partido do próprio artista, em uma espécie de autoboicote inexplicável.

Vistos separadamente, os trabalhos de Vezzoli costumam chamar a atenção por sua ironia e seu humor. Em um conjunto com o som caótico como ocorre na mostra, o único desejo que se tem é voltar correndo à calma do parque lá fora.

FRANCESCO VEZZOLI CINERAMA
QUANDO de ter. a dom., das 9h às 19h; até 11/12
ONDE Oca, av. Pedro Álvares Cabral, 50 (portão 3 do parque Ibirapuera), tel. (11) 5579-0151
QUANTO R$ 20


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