Em primeiro lugar, é preciso que se diga que Rafael Gallo foi audacioso em seu primeiro romance. Ao escolher o tema de "Rebentar", fugiu das facilidades propiciadas pelo estudo do eu tão frequentes na ficção atual.
A via-crúcis de Ângela, uma professora na faixa dos 60 anos que, após três décadas, desiste de buscar por seu filho desaparecido aos cinco anos numa galeria comercial, é narrada de forma bastante crível, o que denota a necessária sensibilidade do autor para o drama alheio.
| Marcus Leoni/Folhapress | ||
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| O escritor Rafael Gallo, 35, autor de 'Rebentar' |
A própria busca é narrada retrospectivamente, em muito detalhe, acompanhando de perto o ir e vir e as conjecturas da protagonista diante das pistas falsas, das dúvidas e temores que sua longuíssima espera pelo retorno de Felipe lhe apresentaram.
Também são esquadrinhadas as responsabilidades que assume socialmente ao deixar de lado sua vida de antes do desaparecimento e se tornar uma espécie de símbolo do grupo de apoio Mães em Busca –responsabilidades que tem de abandonar quando resolve parar de esperar.
É um melodrama clássico, caracterizado pela transformação forçada de sua protagonista, que terá exigido do escritor não só a pesquisa factual como um alto grau de escrutínio empático.
Os desafios que Gallo se propõe se resolvem bem no grau da trama, e algumas cenas –a do hipermercado, a do abrigo– demonstram que ele sabe manejar a tensão. Sobretudo no último terço, o livro cresce graças a isso.
Nas ambições estilísticas, porém, Gallo fraqueja.
A formação musical do autor sugere que ele tenha ido buscar em conceitos como "motivo" e "tema e variação" a estrutura de "Rebentar".
No primeiro caso se enquadraria o uso repetitivo do verbo do título e de seu derivado substantivo "rebento" –logicamente, filho.
O segundo caso se ilustra pela ocorrência, no texto, de frases proferidas pelo narrador que retornam no discurso da protagonista ou, como variações, dentro do discurso do próprio narrador.
Ambas as estratégias parecem procurar transpor em palavras o movimento do mar, elemento muito presente no texto como espaço de meditação de Ângela.
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O que para o autor reluz como um achado, porém, acaba se impondo em demasia na leitura, saltando aos olhos pelo excesso de artifício.
Aspecto cujo domínio é sabidamente difícil, os diálogos sofrem de outro tipo de artificialidade,soando ora livrescos, ora prosaicos demais.
Gallo venceu com "Rebentar" um prêmio importante que, não à toa, é dado a autores com menos de 40 anos; é uma aposta no potencial que ele ainda pode ampliar.
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REBENTAR 
AUTOR Rafael Gallo
EDITORA Record
QUANTO: R$ 49,90 (378 págs.)