Folha de S. Paulo


MoMA adquire a coleção original de emojis e planeja expô-la em dezembro

O seu celular acaba de se tornar sede de uma pequena coleção de arte moderna. Na quarta-feira (26), o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) anunciou a aquisição do conjunto original de 176 emojis para o seu acervo permanente.

As imagens, desenhadas para uso em bips (pagers) fabricados pela operadora japonesa de telefonia móvel DoCoMo e lançados em 1999, foram os primeiros pictogramas a encontrar espaço na comunicação portátil. Demoraria mais uma década para que os emojis explodissem como fenômeno nos Estados Unidos, o que aconteceu quando a Apple incluiu sua primeira coleção de emojis no iPhone, em 2011. Agora existem mais de dois mil emojis padronizados.

O emoji que reconhecemos hoje como a famosa carinha feliz amarela foi criado como um desenho bastante rudimentar, com um pequeno retângulo servindo de boca e dois pontos pretos fazendo o papel de olhos. Contemplar um emoji se assemelha um pouco a tentar decifrar os pictogramas de civilizações da antiguidade. Mas basta olhar com atenção e você encontrará indícios instigantes sobre as suposições incorporadas à moderna comunicação on-line.

Os emojis originais, desenhados por Shigetaka Kurita, eram contidos em uma grade de apenas 12 por 12 pixels. Desenhados inicialmente em branco e preto, em poucos anos os emojis passaram a ser apresentados em uma de seis cores –preto, vermelho, laranja, lilás, verde claro e azul.

Reuters
The set of 176 original emoji characters which have been donated to the Museum of Modern Art in New York City are seen in an undated handout image. Shigetaka Kurita/Gift of NTT DoCoMo/Museum of Modern Art/Handout via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS IMAGE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. FOR EDITORIAL USE ONLY. NO RESALES. NO ARCHIVES.?? ORG XMIT: TOR908
O conjunto de 176 emojis originais que foram doados ao MoMA

Muitos desses símbolos são ilegíveis, e seus mistérios só se revelam com a ajuda de um tradutor. Um círculo vermelho sublinhado por três linhas quer dizer "fonte térmica"; uma bolha púrpura amorfa, talvez apropriadamente, significa "arte". Outros dos desenhos são brutalmente literais: simples traduções digitais de símbolos existentes. Temos os 12 signos astrológicos, os quatro naipes do baralho, o sinal de "não fume" e o de "banheiro".

Mas também há vislumbres dos desenhos figurativos, brincalhões e emotivos que vieram a dominar a cultura on-line. O conjunto oferece diversos corações, um punho cerrado, um gato e um cachorro. Um dos mais importantes emojis modernos –um par de olhos arregalados usados para transmitir diversos significados, de espanto a suspeita– tem suas origens no conjunto primário de desenhos.

E alguns dos símbolos mais simples ganharam vida completamente nova no contexto moderno. O emoji original que representava que fumar é permitido foi redesenhado e transformado em uma imagem realista e colorida que parece um cigarro real ardendo entre os dedos do fumante.

Alguns dos primeiros emojis se inspiraram no mangá, o gênero japonês de graphic novel –uma lâmpada com cara de história em quadrinho, descrevendo um momento de descoberta, e uma bomba com o pavio aceso, por exemplo. Mas a inspiração dominante para o conjunto de desenhos é a sinergia empresarial.

Muitos desses emojis foram criados não para pessoas ávidas por se conectarem, mas para empresas cujo interesse era atingir seus potenciais consumidores. A DoCoMo usava emojis para enviar a previsão do tempo aos usuários de seus bips (o que explica os emojis do sol, relâmpago, guarda-chuva e homem de neve), e para encaminhá-los a empresas locais: um hambúrguer sinalizava um restaurante de fast food, um martíni queria dizer um bar e um sapato de salto alto indicava uma loja de roupas.

Em seu primeiro conjunto de emojis, a DoCoMo também formou parcerias com a Pia, uma agência de venda de ingressos, e com a Zagat, uma editora de guias gastronômicos, e esses velhos contratos empresariais continuam integrados ao DNA da cultura da Internet. Os teclados dos smartphones modernos continuam a oferecer o emoji da palavra "soon" [logo] na seta direita, um velho símbolo da Pia para um show que está para começar.

A aquisição pelo MoMA adiciona o conjunto de emojis a uma crescente coleção de objetos digitais, entre os quais o símbolo @ e uma seleção de videogames.

Quando o MoMA adquiriu o símbolo @, em 2010, Paola Antonelli, curadora sênior do departamento de arquitetura e design do museu, o definiu como talvez "o único objeto verdadeiramente gratuito" em todo o acervo do museu. A adição do símbolo @ "se baseia na suposição de que a posse física de um objeto já não é um requisito para que ele seja adquirido por um museu", ela escreveu. A decisão liberou os curadores para "colecionar" objetos grandes demais para caber no edifício da instituição (por exemplo satélites) e obras efêmeras demais para que se possa exibi-las como um quadro (por exemplo os emojis).

O conjunto de emojis foi adquirido por meio de um acordo de licenciamento com a DoCoMo e permite que o museu exiba as imagens em uma variedade de formas. A partir de dezembro, o MoMA exibirá os emojis no saguão do museu, em uma mostra que incorporará tanto imagens bidimensionais quanto animações.

Antonelli disse que o MoMA espera obter mais emojis, no futuro. "Em certo sentido, o que realmente adquirimos foi uma nova plataforma de comunicação", ela disse. "Mas ao mesmo tempo, os emojis são ideogramas, uma das formas mais antigas de comunicação. Amo a maneira pela qual os séculos se veem conectados, dessa maneira".

Os emojis evocam formas de arte do passado e da era moderna, dos hieróglifos ao mangá. O que eles trazem de novo é a maneira pela qual os símbolos são colocados em uso. À medida que emojis são trocados, difundidos e redefinidos pelos usuários, eles se tornam a mídia para um projeto de arte colaborativo que abarca toda a Internet. Os emojis podem ter começado na DoCoMo e ascendido ao MoMA, mas na verdade pertencem a todos e a ninguém.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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